A vitória do empreendedorismo. (por Antonio Samarone)

Redação, 21 de Março , 2023 - Atualizado em 21 de Março, 2023

 

 

Rabelo era um dos demitidos da Petrobras, em Sergipe. Casado, 3 filhos, 62 anos, formação universitária e desempregado a seis anos. Sobrevivia com o salário da esposa, professora da rede municipal, em Aracaju.

Rabelo perdeu a saúde e a autoestima. Sem esperança em um novo emprego, foi trabalhar por conta própria. Colocou o seu carro na rua e foi rodar como Uber. Se matava, chegou a trabalhar 16 horas sem parar.

Queria mostrar dignidade aos filhos.

Por último, todo passageiro que pegava o carro dele, era levado para a rua do Acre, antiga sede da Petrobras. Virou um obsessão.

Rabelo emagreceu, tinha uma aparência de 80 anos. Barba crescida, olhos fundos, trajes descuidados.

Rabelo virou o maluco do Uber. Foi descredenciado pela empresa.

Ontem, recebi a notícia que Rabelo cometeu o suicídio. Matou-se a moda antiga, enforcou-se.

A psiquiatria de mercado acredita que a depressão, a ansiedade e o sofrimento mental resultam do déficit de certas substâncias no cérebro, sem ligação com o modo de vida.

A OMS definiu a Síndrome de Burnout (esgotamento), como stress crônico no local de trabalho.

O termo burn out é antigo, surgiu na década de 1960, no movimento de contra cultura. Era a ideia de alguém em chamas, se consumindo por dentro. – Camille Lichotti.

E agora? Por onde andam os bons advogados. Está claro, foi um suicídio ocupacional.

A dificuldade é encontrar um psiquiatra que registre esse fato num laudo pericial.

Rabelo, literalmente, só descansou com a morte.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)


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