A CRISE DE FERTILIZANTES Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo

Redação, 06 de Abril , 2023 - Atualizado em 06 de Abril, 2023

 

 

O uso dos nutrientes nitrogênio, fósforo e potássio - NPK têm papel importante no rendimento da produção agrícola. O modelo teórico para o crescimento agrícola brasileiro desenhado nos anos setenta foi o da “inovação induzida”: poupar terra e trabalho, pelo uso intensivo de fertilizantes sintéticos e máquinas agrícolas. A competitividade da agricultura brasileira foi alavancada pela assistência técnica, crédito subsidiado e adoção de inovaçõesde tecnologias organizacionais, mecânicas, químicas e biológicas. Uma sutil estratégia de frear a reforma agrária e a pressão por terra na equação produtivista.

O Brasil está situado na faixa intertropical, solos ácidos e pobres nos principais nutrientes. Aexpansão da agricultura exigiu a utilização crescentede fertilizantes importados. De 2000 a 2020, o uso do NPK aumentou em 157% e a produção de grãos cresceu 211%. Externalidades não foramcontabilizadas. O propósito foi o aumento linear da produção e produtividade das lavouras. Osnutrientes mais utilizados na produção agrícolabrasileira são o potássio (K) com 38%, fósforo (P) com 33% e o nitrogênio (N) com 29%. Cabe ressaltar que o menor percentual do N se deve à fixação biológica do nitrogênio, por bactérias fixadoras de nitrogênio do ar, em substituição ao nitrogênio químico.

As importações responderam por 99% do potássio, 97% do nitrogênio e 72% do fósforo.Enorme dependência para um setor estratégico da economia. Contingência que eleva o custo dos fertilizantes e dos processos de produção. Limitação estrutural que estimula a substituição de fertilizantes sintéticos por fontes alternativas, como os bioinsumos. Uma das possibilidades de situar o Brasil competitivo na contemporaneidade do mercado global.

Antes de desarticular a produção interna de ureia, o Brasil era o segundo exportador de nitrogênio. Quanto ao potássio destaque para as exportações de Canadá e Rússia. No caso do fósforo, a China é o principal exportador, seguido por Marrocos, Rússia, Estados Unidos e Arábia Saudita.O Brasil possui apenas 0,72% das reservas mundiais de rocha fosfática e a produção nacional atende aproximadamente 30% da demanda do fosforo. Soluções existem para à produção de fertilizantes no país. Exploração das reservas minerais de fosforo e potássio no Amazonas e Sergipe. O Brasil é um relevante fornecedor degrãos e carnes para os países exportadores de NPKe dispõe de tecnologias poupadoras dessesnutrientes, a exemplo da fixação biológica de nitrogênio por bactérias e do inoculante líquido de fosforo, abundância de gás natural e reservas de calcário para a fabricação de ureia.

Cabe ao Brasil elaborar estratégias integradas, que incluam negociações diplomáticas e comerciais na economia global, uso eficiente dos fertilizantes, bioinsumos, biofertilizantes, fixação biológica de nitrogênio, redução de ineficiências na aplicação, como logística, desperdício e contaminação na propriedade rural.

O mundo da pós-pandemia, da globalização em ruínas, da mudança climática e de consumidores exigentes por alimentação saudável irá requerer novas abordagens para o uso de fertilizantes naprodução agrícola brasileira. Ao final, as soluções exigem a integração de inovações tecnológicasambientalmente responsáveis, diplomacia para aregularidade da oferta desses insumos e produção agrícola com sustentabilidade.

 

Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo, são engenheiros agrônomos

 


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