Doutor Renato Mazze Lucas... (por Antonio Samarone)

Redação, 10 de Abril , 2023



 

Mazze Lucas clinicou em Itabaiana na década de 1950. Foi o terceiro médico em Sergipe a especializar-se em psiquiatria.

Durante o curso, no Rio de Janeiro, numa aula sobre a licantropia, uma psicose onde o delírio do paciente faz ele acreditar ser um lobo, Mazze Lucas se destacou.

O professor, para mostrar erudição, citou dois exemplos bíblicos de licantropia:

Saul, que terminou cometendo o suicídio, e o poderoso Rei da Babilônia, Nabucodonosor (605-562 a.C.). Nabucodonosor corria e urrava, cobria-se de pelos e hipertrofiava os caninos durante os surtos de licantropia.

Na medicina antiga, a licantropia era conhecida na Mesopotâmia. Hipócrates classificava as doenças mentais em epilepsia, mania, histeria, melancolia e paranoia. Afastou os demônios. Todas as doenças tinham causas naturais.

O professor de psiquiatria indagou aos alunos: alguém conhece casos dessa doença? Mazze Lucas não se acanhou: eu conheço por ouvir dizer. Vê, nunca vi, más ouço falar. Itabaiana, onde eu moro, em todas as quaresmas eles aparecem.

Em Itabaiana, a pessoa que padecia de licantropia era chamada de lobisomem.

O lobisomem é um mito universal. Foram os portugueses que os trouxe para o Brasil. Eram desconhecidos pelos índios.

O lobo é uma animal feroz e astucioso. “O homem é o lobo do homem.” – diz Thomas Hobbes, no leviatã.

Mazze Lucas acreditava que Itabaiana era uma terra de muitos “labisonens” ou “lubisomes”, como o povo chamava. A maioria na Rua Nova. O povo via os maçons como certos. Desconfiar, o povo desconfiava de muita gente.

Sebrão Sobrinho apelidava Itabaiana de “Velha Loba”, não sei se por conta da infestação dos lobisomens ou para remeter a Rômulo e Remo, alimentados por uma loba, na fundação de Roma.

Em um texto delicioso, na revista de Aracaju nº 8, Mazze Lucas destrincha as peripécias dos lobisomens de Itabaiana, dando nome aos lobos e aos homens. Não os cito, com receio em desagradar os descendentes familiares.

No Beco Novo e no Tabuleiro dos Caboclos tinha uma meia dúzia de lobisomens. Betinho de Bebé dos passarinhos tem a relação. Sem falar na fama de Campo do Brito.

A licantropia como doença desapareceu do CID (Código Internacional das Doenças), mas os lobisomens não. Continuam lobos, agora com pele de cordeiros. Trocaram apenas o delírio e a pele.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)


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