A Rota da Castanha. (por Antonio Samarone)
Sair da burocracia e fui visitar dois dos povoados de origem quilombola em Itabaiana: Barro Preto, Tabuleiro dos Caboclos, Carrilho, Tabocas e Dendezeiro.
Curiosamente, o único povoado reconhecido oficialmente como quilombola é o Zangûe, no boqueirão do poético Rio Jacarecica (onde não se encontra evidências).
As Flechas é outra história, lá havia um colônia de Malês, negros muçulmanos e alfabetizados. É de lá o líder abolicionista Quintino de Lacerda.
Ontem fui aos povoados Tabocas e Dendezeiros. Um lindo vale ao pé de serras, cheirando a castanha assando. A castanha parece com café torrando, o odor vai longe, e enche as nossas ventas. O cheiro me lembrou a casa dos meus avós, nas Flechas.
Eu gosto do cheiro da castanha assando.
A economia das Tabocas e o do Dendezeiro gira em torno da castanha e do pequenos negócios nas feiras livres, nos finais de semana. Um terra de experientes feirantes, todos especialistas no que vendem. Da carne aos temperos.
Desde a entrada, pelo Carrilho, é visível a origem africana daquela gente. A história de Fernão Carrilho, um entradista, que no século XVII, sufocou os mocambos daquele pé de serra, está confirmada.
O dendezeiro é uma palmeira originária da África Central e o dendê é um ingrediente básico em muitas comidas de origem africana.
Taboca é bambu, e eu desconheço a origem. Na localidade existe o Riacho Tabocas, hoje assoreado. Acho que devia ser um afluente do Vaza Barris.
Não se construía quilombos longe de fontes de água.
Procurei a professora Isabel, diretora da Escola Municipal. Encontrei um salão lotado de crianças assistindo a um vídeo educativo sobre assédio sexual. Um corpo docente unido, esclarecido e comprometido com a qualidade do ensino. Uma graça de Deus.
É a primeira escola municipal que visito em Itabaiana, cheguei de surpresa e muito me agradou.
Conversamos sobre a cultura negra, danças, capoeira, culinária e sobre as relações da educação com a cultura. Professores motivados e comprometidos com o ensino público.
Me contaram uma história engraçada. A Escola chama-se Maria Vieira de Mendonça, uma homenagem a ex-prefeita e ex-deputada Maria Mendonça. Nos tempos da antiga política, os adversários chamavam apenas Escola Maria Vieira e os correligionários de Escola da Filha de Chico de Miguel.
Coisas antigas da política em Itabaiana. Hoje é Escola Municipal e a merecida homenagem respeitada.
Prometi que no segundo semestres, a Cultura vai levar o cinema e a boa música para os povoados e para a Zona Rural. Começaremos pelo Carrilho.
Comprei as afamadas roscas e o bolo de leite de João de Nanam, mesmo sem poder desfrutá-los, por conta da diabetes. Comprei-os só pela beleza e pelo cheiro. Só comi uma tilasquinha. É esse o bolo raiz que estou procurando.
Liguei pedindo ajuda ao historiador Wanderlei Menezes, um profundo pesquisador da cultura Itabaianense. Ele sugeriu: vamos fazer a rota da castanha. Eu de pronto respondi: vamos!
Em Itabaiana, a cultura é um mundo ainda pouco conhecido.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
Siga os canais do Portal 93 Notícias: YouTube, Instagram, Facebook, Threads e TikTok
Participe da comunidade da 93 Notícias no Whatsapp e receba as principais notícias do dia direto no seu celular. Clique aqui e se inscreva.
As Mais Lidas
- Caminhoneiro de Campo do Brito sofre grave acidente em Minas Gerais
- Tragédia: Motociclista e passageira morrem após serem atingidos por um carro
- Funcionário é morto a tiros e tem a cabeça decepada em Hospital de Fortaleza
- Homem suspeito de crime brutal morto em presídio de Areia Branca
- Carro colide com poste após atropelar animal que invadiu rodovia e deixa uma vítima fatal e três pessoas feridas