BIENAL DO LIVRO: Mais uma efemeridade?

Só faltam quatro meses.

JOSÉ DE ALMEIDA BISPO, 05 de Junho , 2023 - Atualizado em 05 de Junho, 2023

O ambiente festivo, positivista, de olho no futuro da BIENAL 2011. Recebidos na portaria da Associação Atlética de Itabaiana por um "tapete" com grande foto de satélite da cidade, de então, sequer os contentíssimos visitantes sonhavam que aquela foto hoje estaria duas vezes maior, com o gigantesco crescimento da cidade nesses 12 anos de excelentes expectativas; pensamento positivos.

Itabaiana foi colonizada por aventureiros criando gado, porém, de olho na prata. Que nunca foi encontrada.
Teve a fase da pré-indústria de tecidos, que não foi muito adiante; e a fase do algodão para exportação que também pouco prosperou.


Bem, foi justo durante um desses espasmos do algodão, em 1875 que Itabaiana inaugurou o segundo Gabinete de Leitura no estado (o primeiro, lógico, foi na capital), como informa o brilhante pesquisador, professor Wanderlei Menezes.(*)

Mas o Gabinete de Leitura de Itabaiana foi um voluntarismo idealista, apaixonado, de seu criador, o professor Manoel Damásio Pereira Leite; nada mais. Não tinha quem lesse; e sim quem tivesse raiva de quem lesse. Como ainda hoje é comum na troglodice brasileira, muito além de Sergipe ou Itabaiana. Aliás, olhando bem, nós até que estamos com média positiva alta.

Desde as experiências de correspondente de A Noite do futuro prefeito Silvio Teixeira, no início da década de 1930 que Itabaiana tem tentado imprimir jornais.


A Noite, e seu suplemento sociocultural, A Noite Ilustrada, foi um super jornal da capital nacional, o Rio de Janeiro, mormente nas duas décadas e meia varguista. E foi onde Itabaiana saiu pela primeira vez na imprensa para todo o Brasil.


Bem, chegamos a 1968 com O Serrano e sua turma. Só sobreviveu, na prática até 1975. Modestamente tentei retomar o ritmo em 1982. Só aguentei quatro edições, semanais, que saíram em dois meses; logo não foi tão semanais assim.

No meio, uma dezena de títulos, com uma ou duas edições, no máximo quatro edições, em geral indisfarçados panfletos partidários de seus promotores, todos candidatos.


E chegamos à Revista Perfil e sua decorrência, a BIENAL do Livro de Itabaiana; uma ousadia além da conta, em 2011, que incendiou o universo literário sergipano desde então, levantando fósseis das suas tumbas de desestímulos e recolocando-os, revitalizados na estrada; e, especialmente popularizando o ato de publicar livros. Nunca tanto se escreveu e publicou, inclusive coisas sérias.


Isso numa fase em que estavam entrando em voga a analfabetização funcional massiva, com as redes sociais e suas indissociáveis telas de celulares; e em que grandes editoras vieram abaixo com a perda de hábito de ler impressos, foi uma vitória sem precedentes.


Mas a velocidade das transformações faz tudo ficar efêmero, passageiro, rápido. E, claro, os motivos comerciais subjacentes à criação da BIENAL já mudaram completamente, especialmente as expectativas futuras.


É necessário sempre se reinventar. E no caso da BIENAL não a deixar morrer simplesmente.


Particularmente não estou gostando do modo “talvez”, com quem a 6ª edição do evento, programada para o quarto trimestre do ano tem sido tratada.


Faço votos para que os legítimos interesses por lucro imediato e financeiro, assim com os egos inflamados envolvidos e possíveis contaminações partidárias venham para o patamar da racionalidade, com concessões e consensos, como manda a boa prática das relações comerciais, que na história do desenvolvimento civilizatório precede até a própria História, materializada com a invenção da escrita.


A BIENAL criou vida própria e representa, não somente Itabaiana; mas todo o Estado. Não pode ser transformada em mais uma efemeridade; “um rio que passou em nossas vidas, e nossos corações se deixaram levar”. A História cobrará. Em formas econômicas, inclusive, já que cereja do bolo.
Só faltam quatro meses!


(*) MENEZES, Wanderlei. Gabinete de Leitura de Itabaiana (1875-1880): Notas Para a História de uma Instituição Cultural do Agreste Sergipano no Século XIX.


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