Peregrinação Cultural. (por Antonio Samarone)
As peregrinações são buscas por liberdade. O desejo de se levar a vida sem coerções externas imediatas. O belo é sempre oculto. Interior. Não me interessa o belo liso da Internet.
Bela são as coisas não dominadas pela necessidade e pelo cálculo. O belo não se confunde com o estético. Não existe beleza sem narrativas, sem afetos e sem contemplação.
Já faz tempo!
Criamos um grupo de peregrinos laicos (Expedição Serigy), para penetramos no Sergipe profundo. As suas grotas e a sua gente. Começamos pela Serra da Guia e pernoitamos na casa de Dona Zefa.
A Expedição Serigy tinha propósitos: Deixe-me ir, Preciso andar, Vou por aí a procurar... Peregrinação não é turismo de baixo custo, é uma busca de felicidade.
Voltando a Cartola: “Quero assistir ao sol nascer/ Ver as águas dos rios correr/ Ouvir os pássaros cantar/ Eu quero nascer/ Quero viver.”
Pé nas trilhas. Fomos à Serra das Araras, grotões da Ribeira, pantanal de Pacatuba, Capunga, Bom Sucesso, Curralinho, Angico, Saramém, Matas do Crasto, Junco, Curituba, Miaba, Saco Torto, Palmeiras, Bom Jardim, Brejão, Zanguê, Santa Rosa do Ermírio, Tribo dos Xocós, Lagoa Redonda e Ilha do Ouro. Entre outros.
Em seguida, estendemos o alcance das trilhas para fora das fronteiras sergipanas. Fomos a Canudos, Juazeiro do padre Cícero, Serra Talhada, Exu, Uauá, Raso da Catarina, Angico, Riacho do Navio, Ilha de São Pedro, Paulo Afonso, Serra Negra, Xingó e Ilha do Ferro.
Faltou Quixeramobim, onde nasceu o Profeta Antônio Vicente Mendes Maciel. Na cultura, peregrinação se chama trilha. Fizemos várias.
Daqui a pouco, com ou sem chuva, a Expedição Serigy vai tomar um café Itabaianense no Solar do São José. Um pequeno sítio, onde eu plantei capim guiné para boi abanar rabo (ao contrário de Raul). Boi, gente, sapos, gatos e sapatos, quem não tiver rabo preso e que ainda possa abaná-lo.
Estou só esperando o sol nascer. E ele nunca falha.
Vou propor um retorno ao Juazeiro do Norte. Uma despedida. Nada tenho a pedir ao Padim, é só agradecer. Na primeira vez ele me curou de um esporão, que a medicina não sabe o que fazer.
Hoje, controlo a diabetes com insulina no bucho. A porra do açúcar quer destruir tudo.
Vamos quebrar a dieta, comemorar a Expedição Serigy. Mandei trazer tutano de Zebu capado, do Saco do Ribeiro, para misturar com o cuscuz.
A Expedição Serigy não morrerá sem bilhetes, sem foguetes, sem narrativas e nem sem emoções.
Teremos ovos de capoeira legítimos, vindos do Carira. E muita conversa. Os peregrinos são conversadores. Desconfiamos dos calados e dos sonsos.
Com um certo pedantismo acadêmico, seguirei o conselho do Fausto de Goethe: “Agarra-te ao que ainda te sobrou/ Não vás lagar do Divino/ Já, Demônios/ estiram sôfregos as pontas para/ Levá-lo ao mundo inferior.”
Antonio Samarone. (médico sanitarista)
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