Novas e velhas doenças. (por Antonio Samarone)

Redação, 14 de Agosto , 2023



 

Como surgem e desaparecem as doenças?

Eu nasci na metade do século XX. Fui atormentado com o sarampo, paralisia infantil e a varíola. Passei por todas as perebas, lombrigas e caganeiras. Sarnas e bicho de porco. A febre puerperal deixou de matar as mulheres.

A saúde pública inventou as vacinas, a higiene pessoal, o saneamento, a água potável e os antibióticos.

Na infância, eu temia cachorro azedo, cama de sapo, frieira, espinho de cobra, vento pelas costas, vertigem, remela, sarna gaiteira, leite com manga, quebrar o encaixe e perder o juízo.

O resto, dava para enfrentar. Mamãe tratava tudo com pó de sulfonamida, violeta genciana, guaiacol e óleo de rinse. O chulé foi uma novidade trazida pelos sapatos de plásticos.

O autismo era tão raro, que nem nome tinha.

A vida média no início do século XX era de apenas 31 anos. Elevamos a vida média para 80 anos. O século XXI elevará para 120 anos? Será a volta de Matusalém.

Reduzirmos a mortalidade infantil. Acabou-se os enterros de anjos. Pensei, as novas gerações serão mais saudáveis.

O final do século XX, pelo modo de vida, elevou as doenças do coração, as neoplasias, as mortes violentas e o suicídio. Mesmo assim, a vida média cresceu muito, sobretudo pela redução da mortalidade infantil.

A questão é o que fazer com essa sobrevida. Encheremos os asilos e clínicas geriátricas.

Inventamos as mamadeiras, os danoninhos e o today. Resultado: a lactose virou veneno.

Os antibióticos foram fartamente usados, em qualquer sinal de infecção. A agroindústria abusou dos antibióticos. Resultado, alteramos a nossa flora normal, ou seja, a nossa convivência evolutiva com os microrganismos foi modificada.

Em nosso corpo, apenas 10% são células humanas. Além de carne, sangue, músculos, ossos, cérebro e pele, somos bactérias e fungos. Somente o nosso intestino abriga 100 trilhões de microrganismos. 4 mil espécies diferentes.

As bactérias do intestinos pesam 1,5 Kg, o mesmo peso do fígado. Somos uma coletividade de microrganismos.

Em 2003, deciframos o nosso genoma, uma surpresa: possuímos apenas 20 mil genes, menos que um pé de arroz e um pulgão d’água. Os microrganismos que nos habitam somam 4,4 milhões de genes.

Não estamos só. O individualismos é uma ilusão.

Evoluímos lado a lado com bactérias, fungos e vírus, bem antes de sermos humanos. Os nossos micróbios são importantes para o nosso corpo. Uma novidade: cada um, possui a sua flora. Uma bactéria que habita em mim, pode não habitar em você.

Os nosso 2 metros de pele, contém tantos ecossistemas quanto todas as paisagens das Américas.

A indústria achou pouco, passou a vender lactobacilos em supermercados.

Mudamos o modo de vida, a alimentação, substituímos os tubérculos por alimentos processados. Envelhecemos gordos. Derrotamos as bactérias. Os vírus avançaram. A medicina passou a denominar o desconhecido como virose.

O século XXI trouxe as alergias, o autismo, doenças autoimunes, diabetes tipo I, escleroses múltiplas, ansiedade e depressão. O nosso sistema imunológico perdeu a calma, passou a atacar o próprio corpo.

O envelhecimento encontrou as demências e as neuropatias degenerativas.

O que estamos fazendo com a gente? Hipócrates achava que todas as doenças começavam no intestino.

As doenças do século XXI começam no intestino e estão associadas ao sistema imunológico. As diarreias crônicas e a seletividade alimentar são frequentes nos autistas.

Estou convencido: a transição alimentar que experimentamos, tem a digital nas novas doenças. Leiam “10% Humanos”, de Alanna Collen.

Antonio Samarone – Médico sanitarista.


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