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O Cônego Esquecido.(por Antonio Samarone)

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Em 1852, chegou a Itabaiana, o Vigário Domingos de Mello Resende. Por lá ficou até 06 de janeiro de 1902. Meio século! Um fidalgo de sangue nobre. Nasceu no Engenho Carvão, Villa da Capela, em 04 de agosto de 1817, filho do Capitão Mor Manuel de Melo Resende e Dona Josefa Maria do Sacramento.

Domingos de Melo Resende, tornou-se depois Cônego da Sé e Vigário Geral. Foi Deputado Provincial por dois mandatos (1864/65 e 1866/67), sempre militando no Partido Liberal.

O Cônego encontrou a Villa de Santo Antonio e Almas dormindo o sono colonial. Um pequeno arruado de casebres, rodeando a igreja matriz. Uma comunidade muito pobre, isolada, castigada pela falta de água. Itabaiana era um vasto território de engenhos e fazendas, sem vida urbana.

A Igreja católica e a Câmara Municipal eram os únicos sinais de civilização. Itabaiana ainda vivia a influência política de Jose Matheus Leite da Graça Sampaio, último Capitão Mor de Itabaiana. Filho de João Machado de Novais e Dona Rosa Maria de Sampaio, filha do Capitão Ventura Rabelo Leite.

O Cônego Domingos era um velho Sultão, com a casa apinhada de esposas, escravas, concubinas, servas e vassalas. Chamava atenção a fundura de sua cisterna. Mesmo nos anos de seca demorada, a cisterna do padre não secava. Aos domingos, os fieis voltavam da missa com o pote de água cheio. Eu ainda alcancei essa lendária cisterna.

Nunca faltava um capão gordo, nos almoços dominicais da casa paroquial.

O Cônego Domingos de Mello Resende, morava na Praça da igreja, numa cassa avarandada, defronte a um pé de jenipapo, com várias amantes. Deixou uma prole numerosa. Ele assistiu à abolição da escravatura, a transformação de Villa em Cidade e o fim da Monarquia.

Sobre a passagem de Vila a Cidade, 28 de agosto de 1889, o Cônego Domingos desabafou: “Civilidade! Civilidade! Quanto perdeu, agora, Itabaiana ao deixar a sua vida simples de Villa! Civilidade sem civilização!”

O ano de 1889, foi ano de seca. Os Bezerras (Guilhermino, Antonio, João e José) dominavam a política em Itabaiana. Em 13 de maio de 1888, fim da escravidão; em 28 de agosto de 1889, passamos de Villa a Cidade e em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República. Grandes mudanças para uma pequena Villa.

Que se tem notícias, somente 2 itabaianenses, que moravam fora, envolveram-se na propaganda republicana: o médico homeopata Olintho Rodrigues Dantas; e o historiador Francisco Antonio de Carvalho Lima Junior.

Não se sabe quando a notícia da Proclamação da República chegou em Itabaiana. A Câmara Municipal só formalizou a adesão em 22 de novembro. O presidente da Câmara era o rico fazendeiro Casimiro da Silva Melo, que morava em sua fazenda, em Frei Paulo.

Nenhum conselheiro municipal (vereador) em Itabaiana, se manifestou a favor da República ou contra o Império. Nada! Nem o que Machado de Assis recomendou, no romance Quincas Borba: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

A pacata, agora cidade de Itabaiana, na chegada da República, possuía 3 mil habitantes, casas de taipa, estreitas, sem platibanda, quase todas de rancho e 21 sobrados, com sacadas de madeira. A Câmara Municipal funcionava no antigo sobrado do bar de Papinha. A feira ocorria na Praça da Matriz, junto ao Talho de Carne.

A Villa, na passagem para Cidade, possuia três Praças: a da Igreja, um destampado sem pavimentação; o Largo Santo Antonio e a Praça de Santa Cruz (Rua da Tenda). As ruas do Sol, Flores e Vitória, os Becos do Cisco e dos Lírios. As ruas do Cotovelo, Faísca, Futuro e Canto Escuro. O Beco Novo e a Rua Nova. A cidade findava na Rua do Vapor (Joãozinho Tavares). Itabaiana vivia nos sítios e fazendas.

O primeiro surto de urbanização da Villa de Santo Antonio e Almas, segunda metade do Século XIX, deveu-se a cultura do algodão. Em 1862, iniciou-se a realização regular da Feira, as primeiras lojas de fazenda, sapatos, armazéns e joalherias.

Domingos de Melo Resende foi sepultado na igreja, ao lado direito do altar principal. Entre 1967 e 1975, passou por Itabaiana o Monsenhor Soares, que, a título de reformar a igreja, detonou a antiga arquitetura, desrespeitou todas as tradições, e nessa saga, ignorou a sepultura do Cônego Domingos de Melo Resende.

Atenção, senhores Vereadores, não existe nenhum logradouro público em Itabaiana que receba o nome do nosso cura mais longevos. Meio século, ajudando na salvação das almas itabaianenses.

Domingos de Melo Resende, merece uma homenagem.

Antonio Samarone (Secretário de Cultura de Itabaiana).

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