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O Vapor de Joãozinho Tavares.(por Antonio Samarone)

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Segundo Thetis Nunes, o desenvolvimento urbano de Itabaiana só começou em 1860, com a expansão algodoeira. O auge foi a chegada do Vapor de descaroçar algodão, em 1870. Chegamos a 50 máquinas, em 1874.

O último Vapor, de Joãozinho Tavares, reinava absoluto na esquina da Rua São Paulo, com a praça da Feira, até o final do século XX. Foi com o algodão, que surgiu as primeiras casas comerciais e a feira regular aos sábados, em Itabaiana (1862).

A Guerra de Secessão (1861 – 1865), quebrou a produção americana. A indústria têxtil buscou algodão no resto do mundo. Itabaiana aproveitou a crise mundial: derrubou as suas matas para plantar algodão.

Em meados do século XIX (1854), Itabaiana possuía uma população de 7.897 habitantes, sendo 1.550 escravizados. O algodão criou o boia-fria (o Pataqueiro).

As matas das Flechas, Caraíbas, Saco do Ribeiro foram devastadas para a produção do algodão. O Povoado Chã do Jenipapo ficou rico. A consequência foi o seu desmembramento de Itabaiana. Em 1890, surgiu a Vila de Frei Paulo. Foi a primeira perda do território itabaianense.

Itabaiana só passou de Villa a cidade em 28 de agosto 1888, por iniciativa de um deputado monarquista, Guilhermino Bezerra. Além de São Cristóvão, que já foi criada como cidade. Laranjeiras se torna cidade em 1848; Maruim em 1854. Itabaiana esperou o final do século.

A transformação de Itabaiana de vila em cidade (1888), foi consequência da urbanização algodoeira.

O pós-algodão, primeira metade do século XX, formou em Itabaiana, uma economia rural de pequenos produtores, centrada na produção de alimentos. Uma economia de subsistência. A riqueza não veio.

A vila virou cidade, sem os benefícios da cidadania. Itabaiana continuou pobre. Foi necessário aguardar a revolução comercial, puxada pelo caminhão, a partir de 1950.

Até o final do século XX, as histórias do agreste e do Sertão sergipano não eram objetos da historiografia. A história política e econômica de Sergipe é a história dos Senhores de Engenho, a história da Casa Grande, com breves exceções.

Por conta dessa exclusão, quando se pensa em identificar a identidade do povo sergipano, a sergipanidade, limitam-se a realidade da Zona Costeira.

O maior intelectual sergipano de nossa época, Luiz Antonio Barreto, se deu conta dessa limitação. Temos, no mínimo, três identidades culturais distintas: uma no litoral, outra no sertão e por último, outra no agreste. A sergipanidade do itabaianense tem uma especificidade.

Para evitar críticas fáceis, não estou afirmando que existe uma cultural local isolada, sem relação com o resto do mundo. Não! A globalização é dominante. O que estou dizendo é que existem especificidades, modos de vida, crenças, valores atávicos, religiosidades que distinguem as identidades.

As Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque; e a Elite do Atraso, de Jessé de Souza; não explicam tudo. Existe uma lógica local, claro, uma lógica dominada, mas que precisa ser levada em conta. Não existe um receitado sociológico que explica tudo.

Claro, essas subjetividades locais não caíram do céu, surgiram das condições materiais particulares. Um exemplo: é visível na identidade cultural dos ceboleiros a confiança na vitória, a crença no talento, a disposição para a disputa e uma ambição de grandeza.

Itabaiana é uma sociedade mercantil aberta aos iniciantes. Não exige uma origem fidalga, nem um sobrenome tradicional. Embora nem todos vençam, todos acreditam que possam vencer.

Há uma crença imaginária que existe uma certa igualdade na disputa. Uma acumulação mercantil do capital, localizada, num mundo dominado pelo capital financeiro.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

A foto é do acervo do pesquisador Robério Santos.

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