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OS SONHOS DE FLORENTINO

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Entrada oficial para o Parque, em montagem fotográfica com o Professor Florentino Teles de Menezes, o idealizador.

Daqui a cinco meses, o Parque Nacional da Serra de Itabaiana completará vinte anos de criado.
De fato, transformado, no segundo ano do primeiro governo Lula, uma vez que então já uma Estação Ecológica, criada pela Portaria 118, do extinto Ministério do Interior, em 1981, durante a presidência do último general-presidente da ditadura, João Batista Figueredo.

Brasil: Cultura de destruição em massa da natureza. Desde a chegada europeia. O senso de exuberância eterna. (Montagem de excertos de documentação histórico com gravura de Rugendas, “Desmatamento de uma floresta”).

Tem sido uma vitória, sofrida; um passo de cada vez, fazer alguma preservação, enquanto a sociedade pratica a cultura de terra arrasada; tipicamente brasileira; desde as destruições da Mata Atlântica do século XVII, até a desertificação atual da Caatinga e seus correntões, temos vivido empenhados em destruir por destruir. Exuberância total. E irracional.

A idílica Serra de Itabaiana.

A serra de Santa Maria da Graça, de Américo Vespúcio.
(Mapa Cosmografia Universal, de Martin Waldseemüler, 1507, conforme informações de Vespúcio, em 1501)

De montanhas-guia aos navegadores, começando pelo mais famoso, Américo Vespúcio, que a denominou Serra de Santa Maria da Graça – e não pegou – a esperanças de aventureiros por metais preciosos, nos nos dias, as protuberâncias do velho vulcão do arqueano, em forma de cadeia montanhosa ainda chama a atenção, especialmente a mais alta.
Em 1902, ao publicar o seu livro, Quadro Corográfico de Sergipe, Laudelino Freire nos coloca as serras, originalmente denominadas de Itabaiana, como locais aprazíveis, ideais para curas de enfermidades, especialmente das vias aéreas. Respiratórias. Já era lugar comum em Sergipe, entre médicos e seus parcos recursos de cura, especialmente num de seus mais temíveis flagelos: a tuberculose.
E assim se passaram três décadas. De novidade na área, só a peregrinação anual do Dia de Todos os Santos, até a capelinha, no alto da serra maior, que se arrastou, desde seu início, em 1910, até fins os anos 1980.
No nervoso fim da República Velha, se adiantando aos fatos que viriam, o professor Florentino Teles de Menezes, movidos pelos novos ventos, que tanto inspiram os sonhadores, moveu mundos e fundos, e usando do seu vasto e inquestionável prestígio, criou o Centro de Propaganda da Serra de Itabaiana, cujo objetivo final era operar uma estância curativa e recreativa.
Dele, diz o também professor, Ibarê Dantas, em seu livro biográfico (Florentino Teles de Menezes, O sociólogo pioneiro, Aracaju, 2009, versão pdf) sobre o citado: “Sonhando com Sergipe incorporado às grandes causas, mostrou-se atento para a questão do meio ambiente ao propor, em 1928, que a serra de Itabaiana “fosse transformada num centro turístico””.
Em cima da serra grande, já reduzida à sua atual denominação, uma redundância que se impôs: Serra de Itabaiana.
Florentino organizou caravanas da alta sociedade aracajuana; envolveu grandes autoridades estaduais no projeto… mas, ficou só no projeto.
Parques nacionais no Brasil, só viriam a serem criados no Estado Novo .

O parque que se espraia por cinco municípios, numa região antiga e densamente povoada, busca reduzir ao mínimo os contenciosos. (Publicado em “Itabaiana, Nosso Lugar. Quatro Séculos Depois”. Do autor. 2013. p.26).
Nunca faltou idealista, contudo, poucos sequer sabiam com exatidão o que pleiteavam.
Em 1966, a criação de um parque de transmissões, pela Embratel, veio se somar à capelinha existente. E a tão sonhada estrada de acesso, ao topo da serra, não a partir de Areia Branca, como sonhado por Florentino Menezes e sua diretoria, em 1932; mas no trajeto atual, para a sede do Parque, veio como benefício geral.
Em 1981, fruto da crescente consciência ecológica, e seu eco na ainda adolescente Universidade Federal de Sergipe, veio a primeira tentativa séria de reconhecer a Serra de Itabaiana como um lugar especial: O Ministério do Interior, através da Portaria 118/81 criou a Estação Ecológica Serra de Itabaiana. Porém. Como quase sempre ocorre com o mundo intelectual, dissociado completamente da cultura popular e política local. Nota de rodapé, talvez, em algum jornal ou boletim temático. Só.
Verdade seja dita, no meio popular, ecologia ainda era um palavrão; e só o Dia da Árvore, comemorada em modestas escolas de alfabetização. Uma vez por ano.
E, por ser uma medida intelectualizada, burocrática; com típico modus operandi da época de fim da Ditadura, impositivo, puro e simples.
Algum esforço de trazer o tema para o povo foi então posto em prática, como o 1º Simpósio Sobre a Realidade Ecológica da Serra de Itabaiana, no início dos 90, organizado pelo professor Taurino Duarte e o pessoal do IBAMA.
Em 30 de setembro de 1998, na 8ª Reunião do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, em Matinhos-PR, dezessete anos depois de criada, foi lavrado um requerimento, pela implantação em definitivo da Estação Ecológica da Serra de Itabaiana.
De fato, o IBAMA local, que andou meio sonolento, acordou com algumas iniciativas particulares de se envolver com a área já trabalhada. Interpretadas como invasão deliberada.
Em 1998 as prioridades governamentais eram outros “verdes”. Preferentemente, impressos no Tesouro americano. E nada foi adiante.
De tanto malhar em ferro frio, ou seja, querer tirar o povo da serra, optou-se por transformar a Reserva, de Estação em Parque Nacional, o que franqueia o acesso, desde que controlado, englobando outras áreas, inicialmente de fora, incluindo a Itabaiana-Mirim – serras, do Bauzinho, Comprida e do Boqueirão – e a Cajaíba, ou, Cajueiro, bem como o grosso das nascentes dos rios Cotinguiba e Poxim, Mirim e Açu.

Os contras.

A transformação em Parque, em 15 de junho de 2005, o abriu oficialmente ao público, respeitadas, obviamente, as normas ambientais. Melhorou. Mas ainda sofre pesados ataques, inclusive de autoridades. Nesse caso, o Parque já deu início sofrendo pesado ataque.
Em dezembro de 2005, em reunião de emergência, o Governo de Sergipe foi instado a atrapalhar, “uma obra dos adversários partidários”, no melhor estilo pebas versus cabaus.
Atualmente rola por aí uma lenda urbana, de que o asfalto da decantada rodovia Itaporanga-Itabaiana (na realidade, São Cristóvão-Itabaiana) empacou por conta do ICMBio, administrador do Parque.
Uma ligeira consulta aos órgãos competentes, contudo, não apontou nenhum contencioso. Apesar da rodovia atravessar o boqueirão entre as serras de mesmo nome e da Cajaíba, entre os povoados Cajueiro, no município de Itaporanga, porém administrado desde 1963, por Areia Branca; e o povoado Boqueirão, neste município. No sobredito boqueirão, o Parque se liga por uma estreitíssima faixa de apenas 279 metros, atravessada pela centenária estrada real de São Cristóvão, que será(?) usada pelo asfalto.
Já a rodovia BR-235, tem sua travessia já prevista no Art. 2º, alínea II, parágrafo único, do decreto nº 10.557, de 15 de junho de 2005.
Como sonhou Florentino Menezes, também sonho com o dia em que teremos delimitação precisa da área do Parque; instrumentação completa de visitação e até pontes verdes, conectando as serras Itabaiana-Açu com a Itabaiana-Mirim e a Cajaíba, enfim com o dia em atingiremos condição satisfatória de civilidade, e a transformação do Parque num dos principais atrativos para a grade turística, padrão internacional, do desprezado estado de Sergipe, onde cargos de agentes públicos do turismo são meros empreguinhos. Pra constar. E acomodar acólitos partidários.

Entretanto, se move

O Parque, pouco a po.uco, vem resistindo à sanha dos destruidores, que vão desde mineradores a cachaceiros, que usam o espaço só para encherem a cara; coisa que podem fazer em qualquer espelunca. E depredarem.
E os sonhos, dos teimosos sonhadores, não morrem.
Projeto de acessibilidade, como o teleférico à Itabaiana-açu, volta e meia volta à pauta. Dos sonhadores, óbvio.
Dentro do possível, o Instituto Chico Mendes, administrador do espaço vem fazendo as lições de casa. Falta melhorar a cultura de pertencimento, que, diga-se de passagem, mesmo assim já está com uma boa quilometragem, relativamente aos meus tempos de garoto, a perseguir as siriemas para vê-las – além de ouvir – cantar, a cada intervalo das ligeiras chuvas de agosto na vertente sul da serra grande. Ou dos lenhadores a extrair cargas de mangue nas encostas do Poco das Moças.
Enfim, apostemos no futuro.
“Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar”, como magistralmente recita em forma de canto, Guilherme Arantes.
Sergipe só tem espaço para crescer mediante o turismo. Ou se investe nisso, de fato, ou continuará um jipe, sujeito à ferrugem. Ao fim. Nunca um Tupolev.

Concepção artística de Marlon Delano, para um teleférico, facultando maior acessibilidade ao topo da serra. É um sonho de consumo dos florentinos atuais.
Quem sabe, né?

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