Meu primeiro emprego formal, aos treze anos de idade, foi de professor (formalmente, monitor) do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização.
O foi pelo Município de Areia Branca, num povoado que era – e ainda é – do município de Itaporanga d’Ajuda, desde que os barões do açúcar deserdaram o Município de Itabaiana daquele suculento pedaço de terra, ao também deserdarem sua segunda freguesia católica, do então povoado Campo do Brito, até onde hoje corre esse município, por volta de 1860.
E porque ainda hoje a Caroba – e seu vizinho, o Cajueiro – dentro de Itaporanga, são administrados por Areia Branca, desde 1963?
Por preguiça, prepotência e total descuido de deputados e governos, da época, e seguintes. Ao invés de traçar os limites pelos inúmeros rios e córregos que existem na região, nascentes do rio Poxim-Açu, tomaram uma linha imaginária, a partir do pico da serra da Cajaíba (ou Cajueiro, tanto faz) até a nascente do Poxim-mirim, ao sul, e próximo ao povoado Pedrinhas.
Esse limite já estava em vigor em 1875, data do último recenseamento eleitoral da Monarquia.
Mas, Itaporanga ganhou, porém nunca administrou. E Areia Branca, desde 1963, adotou aquelas populações abandonadas, o que gerou meu primeiro emprego.
Por esse critério, desde o início da República os povoados de Serra Comprida, Junco, Boqueirão, hoje, todos dentro do município de Areia Branca passaram a ser de Laranjeiras. Porém, com os dois primeiros citados seus moradores se mantiveram ligados, inclusive eleitoralmente à Itabaiana, até 1963, ano da criação do município de Areia Branca.
Por falta de bom senso, na melhor das hipóteses, em quem criou os limites.
O caso Sergipano
Os arroubos ‘patriotistas’ sergipanos, como diria o personagem de O Bem Amado, Odorico Paraguaçu, junto com singelas intenções de consertar erros seculares levou deputados, governadores e, claro, ingênuos e sonhadores estudiosos a pleitear no início da República Velha a revisão dos limites sergipanos com a Bahia.
Porém, baseados em que, esses pleitos?
Pessoalmente, desconheço qualquer documento definidor dos limites da capitania de Sergipe. Nenhuma linha sobre a ordem de Felipe II da Espanha, então em domínio do Império Português, mandando Cristóvão de Barros invadir os Sertões do Urubu e fundar a cidade de São Cristóvão de Sergipe d’El-rei, e delimitar a circunscrição de sua capitania.
No mapa “baiano” da capitania de Sergipe, ilustrativo ao relatório de Moreno, em 1612, nem mesmo o vale sanfranciscano entra.
No mapa holandês, de 1646, uma inversão: Sergipe “pernambucano”, começa no Vaza-Barris e vai até o rio São Francisco.
Estamos falando de limites norte-sul. Para o então insondável oeste, nada. Mesmo já percorrido, seguramente, por Melchior Dias Moreia, à procura de prata.
Desconheço o estudo que delimitou as nascentes do rio Real, que acabou sendo tomado como limite sul. Já li que nasce, seco, nas proximidades de Banzaê-BA; ou como se convencionou, a leste de Poço Verde, neste caso, mais conveniente ao vizinho estado da Bahia, por encerrar qualquer polêmica.
O fato é que política e culturalmente, está decidido que o rio Real nasce em Poço Verde, e aí cai por terra até aquela reivindicação de que o limite oeste seria uma linha entre a nascente, em Banzaê, e a Cachoeira de Paulo Afonso. Os “interpretadores” de leis e outros escritos, baianos foram vitoriosos e ninguém mais fala nisso. Até mesmo porque, convencer a jeremoabanos, pauloafonsenses, paripiranguenses e outros, a fazerem parte de um estado onde metade ainda tem dúvida se deve existir… não é fácil.
E tudo começou com uma indefinição de limites.
A briga de Sergipe d’El-rei: o Forte Velho e a Cidade.
Aracaju foi criada por um capricho dos senhores de engenho de Cotinguiba, contrapondo-se ao grupo de Estância. Itabaiana, Lagarto e Neópolis de espectadores.
Neópolis (Vila Nova) já enfraquecido há meio século, com o avanço de Propriá; Lagarto em processo de retomada do desenvolvimento, que a recolocaria no primeiro time, ainda no início do século XX; e Itabaiana, estagnada, sem lideranças fortes, e que só a partir de 1950, ressurgiu no cenário estadual, deixando de ser uma lenda do passado, já bastante esquecida, até pelos próprios munícipes, para ser o que é no presente.
Em 1855, quem mandava eram os senhores de engenho (E ainda hoje, apesar de longe dos engenhos). E o principal deles, o Barão de Maruim estava além disso.
E mudaram a velha capital, terceirizando a responsabilidade ao brilhante funcionário de carreira, Inácio Barbosa, então na Presidência da Província, por mérito funcional, nomeado pelo Imperador D. Pedro II, como também por recomendações do supracitado Barão.
Quanto aos limites traçados para o município, desconheço a origem; porém, com o retorno de Nossa Senhora do Socorro a vila emancipada, em 1868, conforme o Álbum de Sergipe, de 1920, Aracaju retornou ao limite original ao sul, no rio Poxim.
Desconhecedor da história territorial da capital, a fundo, logo sem autoridade para opinar. O fato é que no primeiro mapa sergipano, onde aparecem as delimitações municipais, de 1938, o antigo Forte Velho ou Santo Antônio da Aldeia do Aracaju, revigorado como cidade do Aracaju, já tem a área municipal atual, com o município da velha cidade de Sergipe d’El-rei avançando pela península, cortando-a pela metade, até o posto extremo sul, a beira da velha enseada de Vaza-Barris, cemitério de naus, desde Américo Vespúcio, à carregadíssima de ouro nau Almiranta, dois séculos depois.
A velha mania de empurrar os problemas com a barriga, portanto, acaba gerando confusões, mesmo quando o lugar, a princípio, é ermo. Mas que um dia pode se tornar especial, como o sul da península formada pelos meandros do Vaza-Barris, e o oceano, hoje disputadíssimo pela especulação imobiliária.
O caso de Itabaiana
O Município de Itabaiana tem metade da sua atual limitação de forma natural: por rios ou serras. Porém, seus limites com Areia Branca, por exemplo, não estão bem definidos. Grande parte poderia ser pelo riacho do Cachorro, descendo da Cajaíba, entre os povoados Mangueira (Itabaiana) e Boqueirão (Areia Branca); e o rio das Pedras, esse nascendo a cem metros do marco no topo da Serra de Itabaiana. A preguiça e descaso, contudo, separou sítios ao meio; povoados e até casas, ao determinar uma linha direta da serra de Cajaíba à serra de Itabaiana.
Também criaram uma excrescência, ao tomarem uma linha direta entre a confluência dos rios das Pedras e Traíras, hoje submersa na Barragem do Projeto Ribeira, a um ponto aleatório ao sul do povoado Ribeira, cortando o mesmo, na parte sul, dividindo-o com Campo do Brito, e retirando as famosas Pias do município de Itabaiana.
Bastaria consultar um geógrafo, antes de fazerem tais definições.
Problemas para o futuro. Do tipo a arrancar protestos indignados de gente como meu confrade e amigo, o jornalista Luciano Correia, morador do Mosqueiro (que julgava estar em Aracaju) em artigo recente. Fator que me trouxe ao tema. (Leia também: https://www.sosergipe.com.br/somos-todos-aracaju/)
Et coetera.
O foi pelo Município de Areia Branca, num povoado que era – e ainda é – do município de Itaporanga d’Ajuda, desde que os barões do açúcar deserdaram o Município de Itabaiana daquele suculento pedaço de terra, ao também deserdarem sua segunda freguesia católica, do então povoado Campo do Brito, até onde hoje corre esse município, por volta de 1860.
E porque ainda hoje a Caroba – e seu vizinho, o Cajueiro – dentro de Itaporanga, são administrados por Areia Branca, desde 1963?
Por preguiça, prepotência e total descuido de deputados e governos, da época, e seguintes. Ao invés de traçar os limites pelos inúmeros rios e córregos que existem na região, nascentes do rio Poxim-Açu, tomaram uma linha imaginária, a partir do pico da serra da Cajaíba (ou Cajueiro, tanto faz) até a nascente do Poxim-mirim, ao sul, e próximo ao povoado Pedrinhas.
Esse limite já estava em vigor em 1875, data do último recenseamento eleitoral da Monarquia.
Mas, Itaporanga ganhou, porém nunca administrou. E Areia Branca, desde 1963, adotou aquelas populações abandonadas, o que gerou meu primeiro emprego.
Por esse critério, desde o início da República os povoados de Serra Comprida, Junco, Boqueirão, hoje, todos dentro do município de Areia Branca passaram a ser de Laranjeiras. Porém, com os dois primeiros citados seus moradores se mantiveram ligados, inclusive eleitoralmente à Itabaiana, até 1963, ano da criação do município de Areia Branca.
Por falta de bom senso, na melhor das hipóteses, em quem criou os limites.
O caso Sergipano
Os arroubos ‘patriotistas’ sergipanos, como diria o personagem de O Bem Amado, Odorico Paraguaçu, junto com singelas intenções de consertar erros seculares levou deputados, governadores e, claro, ingênuos e sonhadores estudiosos a pleitear no início da República Velha a revisão dos limites sergipanos com a Bahia.
Porém, baseados em que, esses pleitos?
Pessoalmente, desconheço qualquer documento definidor dos limites da capitania de Sergipe. Nenhuma linha sobre a ordem de Felipe II da Espanha, então em domínio do Império Português, mandando Cristóvão de Barros invadir os Sertões do Urubu e fundar a cidade de São Cristóvão de Sergipe d’El-rei, e delimitar a circunscrição de sua capitania.
No mapa “baiano” da capitania de Sergipe, ilustrativo ao relatório de Moreno, em 1612, nem mesmo o vale sanfranciscano entra.
No mapa holandês, de 1646, uma inversão: Sergipe “pernambucano”, começa no Vaza-Barris e vai até o rio São Francisco.
Estamos falando de limites norte-sul. Para o então insondável oeste, nada. Mesmo já percorrido, seguramente, por Melchior Dias Moreia, à procura de prata.
Desconheço o estudo que delimitou as nascentes do rio Real, que acabou sendo tomado como limite sul. Já li que nasce, seco, nas proximidades de Banzaê-BA; ou como se convencionou, a leste de Poço Verde, neste caso, mais conveniente ao vizinho estado da Bahia, por encerrar qualquer polêmica.
O fato é que política e culturalmente, está decidido que o rio Real nasce em Poço Verde, e aí cai por terra até aquela reivindicação de que o limite oeste seria uma linha entre a nascente, em Banzaê, e a Cachoeira de Paulo Afonso. Os “interpretadores” de leis e outros escritos, baianos foram vitoriosos e ninguém mais fala nisso. Até mesmo porque, convencer a jeremoabanos, pauloafonsenses, paripiranguenses e outros, a fazerem parte de um estado onde metade ainda tem dúvida se deve existir… não é fácil.
E tudo começou com uma indefinição de limites.
A briga de Sergipe d’El-rei: o Forte Velho e a Cidade.
Aracaju foi criada por um capricho dos senhores de engenho de Cotinguiba, contrapondo-se ao grupo de Estância. Itabaiana, Lagarto e Neópolis de espectadores.
Neópolis (Vila Nova) já enfraquecido há meio século, com o avanço de Propriá; Lagarto em processo de retomada do desenvolvimento, que a recolocaria no primeiro time, ainda no início do século XX; e Itabaiana, estagnada, sem lideranças fortes, e que só a partir de 1950, ressurgiu no cenário estadual, deixando de ser uma lenda do passado, já bastante esquecida, até pelos próprios munícipes, para ser o que é no presente.
Em 1855, quem mandava eram os senhores de engenho (E ainda hoje, apesar de longe dos engenhos). E o principal deles, o Barão de Maruim estava além disso.
E mudaram a velha capital, terceirizando a responsabilidade ao brilhante funcionário de carreira, Inácio Barbosa, então na Presidência da Província, por mérito funcional, nomeado pelo Imperador D. Pedro II, como também por recomendações do supracitado Barão.
Quanto aos limites traçados para o município, desconheço a origem; porém, com o retorno de Nossa Senhora do Socorro a vila emancipada, em 1868, conforme o Álbum de Sergipe, de 1920, Aracaju retornou ao limite original ao sul, no rio Poxim.
Desconhecedor da história territorial da capital, a fundo, logo sem autoridade para opinar. O fato é que no primeiro mapa sergipano, onde aparecem as delimitações municipais, de 1938, o antigo Forte Velho ou Santo Antônio da Aldeia do Aracaju, revigorado como cidade do Aracaju, já tem a área municipal atual, com o município da velha cidade de Sergipe d’El-rei avançando pela península, cortando-a pela metade, até o posto extremo sul, a beira da velha enseada de Vaza-Barris, cemitério de naus, desde Américo Vespúcio, à carregadíssima de ouro nau Almiranta, dois séculos depois.
A velha mania de empurrar os problemas com a barriga, portanto, acaba gerando confusões, mesmo quando o lugar, a princípio, é ermo. Mas que um dia pode se tornar especial, como o sul da península formada pelos meandros do Vaza-Barris, e o oceano, hoje disputadíssimo pela especulação imobiliária.
O caso de Itabaiana
O Município de Itabaiana tem metade da sua atual limitação de forma natural: por rios ou serras. Porém, seus limites com Areia Branca, por exemplo, não estão bem definidos. Grande parte poderia ser pelo riacho do Cachorro, descendo da Cajaíba, entre os povoados Mangueira (Itabaiana) e Boqueirão (Areia Branca); e o rio das Pedras, esse nascendo a cem metros do marco no topo da Serra de Itabaiana. A preguiça e descaso, contudo, separou sítios ao meio; povoados e até casas, ao determinar uma linha direta da serra de Cajaíba à serra de Itabaiana.
Também criaram uma excrescência, ao tomarem uma linha direta entre a confluência dos rios das Pedras e Traíras, hoje submersa na Barragem do Projeto Ribeira, a um ponto aleatório ao sul do povoado Ribeira, cortando o mesmo, na parte sul, dividindo-o com Campo do Brito, e retirando as famosas Pias do município de Itabaiana.
Bastaria consultar um geógrafo, antes de fazerem tais definições.
Problemas para o futuro. Do tipo a arrancar protestos indignados de gente como meu confrade e amigo, o jornalista Luciano Correia, morador do Mosqueiro (que julgava estar em Aracaju) em artigo recente. Fator que me trouxe ao tema. (Leia também: https://www.sosergipe.com.br/somos-todos-aracaju/)
Et coetera.