“Gostava muito do trabalho, mas sempre tinha uma e outra aluna que sempre atazanava a minha paciência. Tive uma que se chamava Fátima que até nua minha casa vinha”, rememora a professora de artesanato aposentada, Dalva Santana do Sacramento, que completa 100 anos de vida no dia 17 de maio.
A mais nova dos 16 filhos do casal Manoel Joaquim Santana e Elisa Santana, Dalva veio da cidade natal, Capela, para a capital sergipana aos 16 anos de idade, para trabalhar na fábrica Sergipe Industrial com mais duas irmãs, localizado onde foi funcionária por 14 anos, conforme relata a centenária.
Ao sair da fábrica, Dalva fez curso de corte e costura e depois foi ensinar na Escola Municipal de Artes que levava o nome da sua mãe, Elisa Santana, no Bairro Industrial. “Entrei na época do prefeito Godofredo Diniz, por indicação do vereado Narciso Machado. Antes de acabar o período de contratação, que foi de seis meses, fui efetivada e trabalhei lá até me aposentar”, diz ela, que não relembra ao certo a data da aposentadoria.
Ela ingressou nos quadros de servidores públicos municipais de Aracaju no dia 1º de setembro de 1963, onde permaneceu até 27 de fevereiro de 1986, quando se aposentou. Dalva diz com orgulho que sempre trabalhou na mesma escola, onde ministrava aulas que iam desde costura de roupa e itens de artesanato. “Eram duas mesas bem grande, onde as alunas faziam os desenhos e os cortes das peças. Passava explicando tudo direito a todas elas e depois fazia o desenho no quadro, mas sempre tinha uma ou outra que testava a minha paciência. Eu gostava muito de ensinar”.
Moradora do Bairro Santo Antônio, a aposentada do município de Aracaju casou-se já perto das 30 anos, com o então viúvo João Fausto, que tinha cinco filhos: três homens e duas mulheres, todos já grandes. “Ele era alfaiate e praticava remo. Me conheceu um dia em que eu estava com minhas irmãs e amigas, arrumando o salão do sindicato para uma festa que ia ter, ao entrar para busca o barco de remo. Depois ele procurou saber mais sobre mim com os colegas da fábrica. E alguns dias depois, por um acaso, acabei parando na porta da alfaiataria dele, para esperar a chuva passar. Foi então que nos conhecemos de verdade e nos casamos”.
Apesar da diferença de idade entre eles, pois João Fausto era 21 anos mais velho que ela, Dalva relembra que foram muito felizes. “Foi um casamento feliz, graças a Deus. Tivemos duas filhas, a Dilma (66 anos) e Delma (53 anos). Minhas filhas são meus tesouros, pois sempre foram unidas e nunca brigaram”, afirma a aposentada que é viúva há 36 anos, contando com orgulho que tem três netos e cinco bisnetos.
Mesmo usando cadeiras de rodas, com a audição e a visão comprometidas, Dalva tem uma rotina ativa, com o auxílio da filha mais velha. “Eu acordo e saio sozinha da cama para a cadeira de rodas, vou ao banheiro, tomo meu banho e depois tomo meu café. Genivalda vem aqui para casa, quatro vezes por semana, e quando ela não vem, ajudo minha filha Dilma nos afazeres de casa, enxugo pratos, guardo tudo nos armários que eu alcanço”, diz, cheia de orgulho.
Com a mobilidade reduzida devido a artrose no joelho, as atividades de Dalva é monitorada por Geni e a filha Dilma. “Deixamos ela fazer as coisas, mas ficamos sempre acompanhando, caso precise de ajuda. Improvisamos até uma cestinha que ela coloca no colo, com uma alça no pescoço, onde mamãe põe o que enxuga e vai guardar nos armários”.
Animada e falante, Dalva conta toda feliz o resto da rotina diária. “Depois do café, ajudo no que posso e depois do almoço, ninguém me incomode, pois gosto de ter o meu sono”. Daí, ela só acorda bem no final da tarde. “Chamo ela para rezar o terço, que sempre passa na Canção Nova às 18h”, complementa a filha Dilma.
Depois, toma o café e fica na sala, dobrando roupa e esperando o horário das novelas. “Só vou dormir depois das novelas, lá para 11 horas da noite. Consigo passar da cadeira de rodas para a minha cama sozinha”, declara Dalva, que cativa todos com seu sorriso, lucidez e jeito acolhedor.
Foto: Diane Queiroz/PMA