RESPOSTA DO CONTERRÂNEO

Manoel Moacir Costa Macêdo

Obrigado conterrâneo pela breve resposta a minha recente missiva. Não esperava que fosse tão rápido. Com certeza foi a amizade jamais esquecida. Ao invés de cartas, utilizou a internet. Fez bem. Está atualizado. Soube que está aposentado e não se dedica à medicina, mas à fazenda, um latifúndio produtivo. Caso raro, pois os médicos não se cansam e trabalham até o desencarne. Aprendeu a lição de nossa terra: “caixão não tem gaveta para transportar ao túmulo a riqueza material acumulada”. Para a espiritualidade, transportamos no períspirito à eternidade, apenas os ganhos morais.

Estou feliz pela resposta e disposição em ajudar a saúde brasileira. Sei que não seremos ouvidos, mas, a história registra. A sua experiência será de grande valia, pois como escreveu, “foi do tempo da medicina mais humanizada com uma boa anamnese e um eficiente exame físico aliado a um simples estetoscópio e tensiômetro fazíamos precisos diagnósticos e eficazes tratamentos”. O Brasil é reconhecido pelo investimento no Sistema Único de Saúde – SUS, raridade entre as nações populosas, na universalização do atendimento público e gratuito à saúde da população. Aqui a carência acontece à beira ou dentro dos hospitais e unidades básicas de saúde, diferente de outros países, onde os pobres, nem nelas chegam. 

As suas sugestões mostram o espirito de cidadania herdado de seus pais, gente simples, mas honesta e trabalhadora. Imagino o sacrifício que fizeram para formar um “filho doutor”. Aproveito a oportunidade, para lhe relatar outro caso contado por outro colega da nossa histórica Escola Marquês de Abrantes nos anos setenta, naquele “sobrado assombrado”. Disse ele, que anos atrás, passou por uma intervenção cirúrgica para retirada de “pedras nos rins”. Não sei qual o seu CID – Classificação Internacional de Doenças. No tempo de nossa infância, se curava com a milagrosa planta “quebra-pedra”. Discorreu, que foi um procedimento cirúrgico de baixa complexidade, na época, concluída com êxito por renomado cirurgião.  

Disse ele, que tempo após a cirurgia, sentiu um desconforto na região pélvica. Deu pouca importância. Pensou, são as limitações da idade que chegou. Somos todos setentões. Como prevenção, procurou um especialista, que solicitou uma Ressonância Magnética – RM. O resultado foi assustador. Em nítidas imagens identificou um “cateter” esquecido por ocasião da cirurgia no rim. Pelo tempo, estava calcificado. Foi submetido a uma nova e exitosa cirurgia, não para curar uma moléstia, mas para corrigir os erros da cirurgia pretérita.     

Até o nosso recente encontro, ele afirmou que nunca tinha comentado esse fato, pelos óbvios temores frente a uma categoria profissional organizada e protegida. Espero que você como médico, humanista e ético, hoje rico e independente possa auxiliar para aliviar os sofridos e pobres conterrâneos, carentes de quase tudo. Eventos como esse, podem levar ao desencarne fora do tempo programado por Deus. 

Não se preocupe, compreendo as suas limitações, caso prefira silenciar. Perdoe os incômodos que lhe causei, pois se trata de uma história “quase verdadeira”, entre a realidade e a ficção. O mais confortável e comum, é “colocar o lixo debaixo do tapete” e “vida que segue”. Para professor e pesquisador Allan Kardec, no “Livro dos Espíritos” publicado no final do Século XIX: “os maus exercem geralmente maior influência sobre os bons, pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Estes, quando quiserem, assumirão a preponderância”. 

Ao final, como escreveu recentemente, o jurista e primeiro Ministro negro no Supremo Tribunal Federal – STF, Joaquim Barbosa: “algumas categorias profissionais gostam de ditar normas ao país. Médicos, advogados e engenheiros, são castas historicamente privilegiadas que se acham donas do Brasil”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

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