TEMPO DO BARULHO: SALVE O BARULHO

Manoel Moacir C. Macêdo; Gutemberg. A. D. Guerra; Manoel M. Tourinho

          A sabedoria não se aprende nos bancosescolares. “Grades” curriculares e “disciplinas” de conteúdos “containers”, são mais castrantes que motivadores da criação. A sabedoria, aflora frente aos desafios existenciais do viver, no cenário das ruas, por exemplo. O “tempo do barulho”, dascampanhas eleitorais, expressa propostas consentidas frente à mudança social. Não importa se um espetáculo mais para circo, do que para a festa da democracia na essência teórica da “vontade geral”. Mas, não deixa de ser um barulho eivado de truques e sabedorias populares, desde as imagens, mensagens e locais de suas inserções.

A democracia não é apenas letras, cânones,normas e eleições. A democracia é exercício vivencial. No Brasil a convivência democrática ainda é recente e superficial. Somos testemunhas das crises da democracia brasileira no tempo que inicia no século passado, e chega no primeiro quartil do presente século. Da República Velha em 1889 à atualidade são 135 anos, dos quais em apenas 36experimentamos uma democracia, mais eleitoral e menos substantiva em valores e transformações. Quase um século, sem o “barulho” do convencimento, da participação popular, ou até mesmo da criminosa compra do voto do eleitor. Racismo, preconceito, injustiça e desigualdade não estavam na pauta das restritivas campanhas eleitorais desse passado.

Tempo das relações sociais em alerta eimobilizadas. O pensamento crítico acuado e sem respostas imediatas. A democracia encurralada e surpresa. Evidências expostas da crise da democracia como forma de governo da igualdade, liberdade, livre expressão e defesa das minorias. Valores iluministas custosos à humanidade, que pareciam inquebrantáveis, estão sorrateiramente solapados. De início, de forma clandestina, e a seguir à luz do dia e desenvergonhadamente pela multidão de desesperados dopados pelos“salvadores da pátria”.

Conquistas democráticas aparentemente sólidassão neutralizadas por retrocessos gestados por extremistas do apocalipse, algoritmos virais e negação de ganhos civilizatórios. A democracia em ruína. Interferência externa globaliza e impede que as democracias nacionais evoluam. Cobrança edesilusão na contabilidade entre o prometido e odevido. Retorno assustador aos primórdios medievais e conflitos imperiais entre o Ocidente e Oriente. A mancha do fascismo retornou ardente, que aparentava mofada nos anais da história. Ressuscitou com vitalidade, primeiro no coração doVelho Continente, pátria da civilização e, a seguir mundo afora, incluindo a Nação exemplar da democracia ocidental. Para uns, tempo de “modernidade líquida”, onde tudo é efêmero e descartável, para outros o “novo extremismo da direita”.

Ambos abalam a democracia e o mundo numaaparente estabilidade política e social. O primeiroataque foi aos alicerces da democracia, por métodos paridos no interior da própria democracia. Não se trata de luta de classes e nem revoluções ideológicas, mas governos autoritários estabelecidospelo próprio poder popular, que dispensa fuzis e canhões, legitimados pelo sufrágio universal da escolha popular, como o direito de votar e ser votado. 

Salve o “tempo do barulho”, como protesto ao silêncio autoritário, ao medo e insegurança de migrações de milhões de pobres. O “paradigmaextremista em construção”, abomina a democracia elaborada pelos pensadores clássicos, como o “governo do povo”, do livre pensar, agir, sonhar e da alternância de poder. 

O extremismo de direita, rejeita e reprime o “tempo do barulho”, mesmo com imperfeições e incongruências, e potencializa a “democracia dos despostas”, dos privilégios de minorias, e da “elite do atraso”. Ele sufoca a participação popular e cala o“tempo do barulho”, que ao final, ruim com o “barulho”, pior sem ele. 

Manoel Moacir C. Macêdo; Gutemberg A. D. Guerra; Manoel M. Tourinho, são respectivamente engenheiros agrônomos e pós-graduados em ciências sociais.

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