Manoel Moacir Costa Macêdo
O Brasil continua assentado nos rastros de sangue da escravidão africana. Uma crua e atualevidência é a persistente e abissal desigualdade. Ferida aberta e exposta, como chaga dolorosa da identidade nacional.
Historiadores registram que a “escravidão se tornou sinônimo da pele negra, origem da segregação e do preconceito racial que ainda hoje assustam e perturbam a convivência social no Brasil”.
Nenhum valor ou ganho cultural, social e econômico, compensa a infame e longa escravidão brasileira. Iniciada com a colonização, e ultrapassou a independência, no lapso temporal de quase quatro séculos. A sua formal extinção, deu vida às formas sutis, e até certo ponto consentida, do “trabalho análogo à escravidão”. Os disfarces, no elogio à miscigenação e no “jeitinho brasileiro”, escondematraso, dores, e expiações.
Inacreditável a sua existência num Paísmajoritariamente cristão. Onde deveria predominar a piedade e compaixão, resiste o pecado capital da escravidão. As pústulas em carne viva, dessa moléstia continuam sangrando. Os alívios advindos de políticas públicas compensatórias são paliativos e analgésicos, incapazes à luz da civilização e da cristandade, como “amar o próximo como a si mesmo”, cicatrizarem essa chaga.
Mereceu destaque na mídia nacional, a recente“operação contra trabalho escravo que resgatoutrabalhadores, em condições análogas ao trabalho escravo”. Na legislação pátria, são “humanos submetidos a jornadas exaustivas de trabalho, condições precárias de alimentação, transporte, moradia, restrições de ir e vir e descumprimento à legislação trabalhista”.
A exploração atualizou a forma de escravizar, substituindo o chicote, o capitão-do-mato e a corrente com a bola de ferro, pelo “trabalho análogo à escravidão”. “86% do trabalho análogo à escravidão, ocorre no setor privado e aproximadamente uma em cada oito pessoas nesta situação é uma criança. Entre 1995 e 2022 à escravidão fez aproximadamente 60 mil vítimas no Brasil”.
O assustador, é que “entre as atividades econômicas com maior número de vítimas, está na área rural e nos cultivos da cebola, horticultura, café, alho, e batata”. A produção agropecuária, principal fonte de ingressos da economia brasileira, responsável por quase um quarto da riqueza nacional, e referenciada pela pujança de suas safras em seletivos produtos, as chamadas commodities, carrega essa mancha em suas entranhas.
Difícil explicação aos comuns, que um País líder na produção e exportação de alimento, não eliminou a fome de seus nacionais, e nem extinguiu o trabalho análogo à escravidão em seus produtivos campos.