Condição frequentemente sem sintomas evidentes, a trombofilia está associada a abortos recorrentes, pré-eclâmpsia e partos antecipados
A gravidez é um período de grandes mudanças físicas e emocionais na vida da mulher, mas também pode esconder perigos invisíveis, como é o caso da trombofilia. Um episódio recente que chamou atenção para essa condição foi o relato da influenciadora digital Maíra Cardi, que, mesmo sem apresentar sintomas visíveis, descobriu a doença em exames de rotina com seu obstetra, após enfrentar repetidas perdas gestacionais.
Embora seja uma condição com potencial para causar sérias complicações, a trombofilia costuma evoluir de forma silenciosa. Quando ocorrem, os sintomas podem ser leves ou confundidos com outras enfermidades. Sinais como inchaço nas pernas, dores sem explicação, cansaço intenso ou falta de ar só costumam aparecer quando o quadro já está agravado, como em casos de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar.
O que é a trombofilia e quais os seus riscos?
A trombofilia é uma alteração na coagulação sanguínea que favorece a formação de coágulos. Pode ser de origem genética ou adquirida e, de acordo com a ginecologista e obstetra Glícia Ramos, professora do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), o maior risco está justamente na ausência de sintomas. “É chamada de silenciosa porque muitas vezes só é descoberta quando já provocou complicações, como trombose, embolia ou perdas na gestação”, esclarece.
As trombofilias mais frequentes em mulheres em idade reprodutiva são as hereditárias, como a mutação do fator V de Leiden, a mutação da protrombina e as deficiências de proteína C, proteína S e antitrombina III, e as adquiridas, sendo a síndrome antifosfolípide (SAF) uma das mais preocupantes devido à sua ligação com complicações gestacionais. “Nem todas as pacientes com trombofilia enfrentam dificuldades na gravidez. Isso depende do tipo da alteração e do histórico clínico da mulher. Existem casos leves que não interferem na gestação”, destaca Glícia.
Contudo, nas formas mais severas, os perigos são maiores, principalmente por prejudicarem o fluxo sanguíneo para a placenta. “Essa condição pode afetar o desenvolvimento da placenta por meio da formação de pequenos coágulos, o que aumenta o risco de abortos recorrentes, pré-eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), descolamento prematuro da placenta e parto antes do tempo. Nos quadros mais críticos, como a SAF, há interferência direta na fixação do embrião e risco de parto precoce por falhas na função placentária”, detalha.
Como é feito o diagnóstico e qual o tratamento?
A identificação da trombofilia se dá por exames específicos, que incluem testes genéticos e imunológicos. Esse rastreamento é especialmente recomendado para mulheres com histórico de abortos repetidos, complicações graves na gravidez ou antecedentes pessoais ou familiares de trombose. “Esses exames laboratoriais são indispensáveis para planejar um pré-natal mais seguro e individualizado”, ressalta Glícia.
Durante a gestação, o tratamento geralmente envolve o uso de anticoagulantes como a heparina de baixo peso molecular (HBPM), que impede a formação de coágulos sem afetar a placenta. Em alguns casos, associa-se o uso de aspirina em baixa dose. A escolha do tratamento depende do grau de risco apresentado pela paciente. “Em situações mais críticas, o tratamento já pode começar antes mesmo da confirmação da gravidez. Em outras, apenas após o teste positivo”, explica a médica.
Prevenção e planejamento
Mesmo diante dos riscos, a trombofilia não significa que a mulher não poderá ser mãe. Com o diagnóstico precoce, acompanhamento especializado e cuidados médicos adequados, é possível viver uma gestação saudável. “O mais importante é procurar orientação médica antes de engravidar. O diagnóstico deve ser encarado como uma forma de proteção e não como um impeditivo. Muitas mulheres com trombofilia conseguem formar famílias com segurança e saúde”, afirma a ginecologista Glícia Ramos.
Além do tratamento medicamentoso, medidas como manter-se bem hidratada, ter uma rotina de movimentação e o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar ao longo da gravidez ajudam a reduzir os riscos. Para mulheres diagnosticadas com trombofilia que desejam engravidar, o ideal é buscar acompanhamento ainda na fase de planejamento. “Com um bom preparo, orientação correta e uso adequado das medicações, é plenamente possível passar por uma gestação segura. O diagnóstico é uma oportunidade de cuidar melhor da saúde, não uma sentença”, finaliza a especialista.
Fonte: Asscom Unit