A GRANDE LIÇÃO DA MANJEDOURA
Por Jerônimo Peixoto
A GRANDE LIÇÃO DA MANJEDOURA
Ela ocupa o centro do presépio. Está cercada de adereços e de muitas luzes, com animais e pássaros, num clima altamente lírico, bucólico, embora tenha-se dado, de fato, na periferia da cidade. A manjedoura é um encanto!
Ao visitar os presépios, sente-se a presença de Deus, pelo idealismo da arte neles presentes. Quem monta presépio, em geral, são pessoas sensíveis à beleza, à harmonia, com um imaginário poético de tirar o fôlego.
Embora extremamente rico em detalhes, o presépio nada seria, não fosse a manjedoura com as três pessoas da Sagrada Família. De um lado, o pai José, do outro, a mãe Maria e, entre eles, o recém-nascido. Como os olhares se voltam para os três, é impossível não enxergar o contraste entre a verdura das figuras em volta e as palhas secas da manjedoura.
As palhas estão ali, porque nem mesmo os animais as comeram. Estavam secas! Só para o fogo! Não tinham qualquer outra serventia. Nem os animais marcados pelo frio de dezembro foram capazes de as tragar. Não têm valor e estão destinadas ao total abandono.
Como as pessoas das cidades, com suas casas abastadas e com suas hospedarias luxuosas, não compreenderam o sinal divino de uma mulher grávida acompanhada de um carpinteiro mendigando pouso, as palhas igualmente rejeitadas por todos serviram de acolhida ao Deus menino, exatamente à hora de sua entrada neste mundo.
A periferia não é lírica, nem poética. É realidade dorida, marcada pelo peso da rejeição, da exclusão, do preconceito e do desafeto. Em todas as partes do mundo, ser ou viver na periferia é sinônimo de desafios enormes. Não é algo que se deseja, por opção, mas que se aceita por imposição.
As palhas secas que para nada serviam acolheram o Homem Deus! Nisso foram melhores do que a humanidade que aguardava ansiosa o Messias! Jesus nasce longe do templo, do palácio real, dos sacerdotes, dos Mestres da Lei. Nasce entre as palhas secas. Experimentou o significado da exclusão, ao entrar na história.
Hoje, ele renasce entre nós, à medida que deixarmos de tratar as pessoas com palhas secas. Quando soubermos dar o devido valor a cada ser humano, sem discriminações, sem preconceitos, sem intolerâncias, sem ódio e sem incitações ao crime ou à violência desumana, Natal será uma contante.
Aprendamos que o tempo de Deus é diferente do nosso e que os critérios de escolha e de julgamento divinos nunca batem com os nossos. Natal é tempo de aprender a lição da manjedoura. É hora de acolher, de perdoar, de amar e de buscar a paz.
Feliz Natal!
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