ITABAIANA – 350 ANOS. JOSÉ AUGUSTO MELO.

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Itabaiana – 350 anos. José Augusto Melo.
(por Antonio Samarone)

Um homem tranquilo, bem-humorado, gentil, torcedor do Vasco da Gana, memória afiada, aos 84 anos. José Augusto Melo, continua de bem com a vida, mesmo já tendo enfrentado três extremas-unções e sobrevivido a Pandemia.

José Augusto Melo é de família de artistas e músicos, da elite cultural de Itabaiana.

Seu pai, José da Cunha Melo (Zezé da Lagoa), foi o dono do primeiro cinema em Itabaiana, antes do cinema popular, de Zeca Mesquita. Seu Zéze da Lagoa possuia uma fazendola no Zanguê, chamada Pau de Mel, onde se plantava cana, para vender-se o caldo no Beco dos Cocos, ao lado do Mercado.

O Beco chamava-se dos cocos, por ser o ponto de vendas de Miguel Fagundes.

Seu Zezé da Lagoa foi o criador do Bar Simpatia, que eu já conheci nas mãos de Bobó, seu filho. O Bar de Bobó (Simpatia), tinha o melhor picolé de coco do Brasil.

Itabaiana, como lembrou Nadinho, era uma cidade próspera em bares. Um em cada esquina. O que diferenciava os bares das bodegas, era a presença de mesas de sinuca, à época um jogo muito apreciado. Hoje, ninguém se interessa por sinuca, nem em condôminos
.
Lembro-me dos bares, em Itabaiana: Bar Brasília (sete portas); Simpatia; Milachula, de João Criano, Bar de Zezé de Jone, onde além do sinuca, tinha um carteado; os bares de Pedro Delfino, de João de Babau e Dedé Cachaça. Até Seu Jubal, antes da loja de tecidos, teve um bar. O resto, eram bodegas.

O que caracterizava o Bar, era possuir mesas de sinuca.
Seu Zezé da Lagoa era irmão de Zé Melo, Seu Heleno, de Neusa; Jú Melo; Bobó; Gustavo; Cecinha; Zaíra; Filelina Melo (Dona Nila), esposa do Dr. Florival de Oliveira e do maestro Antonio Melo.

Isso mesmo, o exímio saxosofonista e maestro, por longos anos, da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição. Ele sucedeu ao maestro Antonio Silva e foi sucedido por Valtenio Alves de Souza.

Em Itabaiana ocorreu uma grande fusão familiar, das elites locais: três filhos do Doutor Florival, um fidalgo laranjeirense, que migrou para Itabaiana, casaram-se com três filhas de Zeca Mesquita, um nobre desenvolvimentista.

Entre os filhos de Florival, destaco Pedro Ribeiro de Oliveira, o professor Pedrinho, formado na Bahia, em odontologia. Casado com Dona Maria do Carmo, filha de Zeca Mesquita. Os outros filhos eram Edson, Tenysson, prático em farmácia. Sem contar Oliveirinha, pai do amigo Cibalena, que não casou com as filhas de Seu Zeca.

O Dr. Florival de Oliveira possuia a maior biblioteca do agreste sergipano. O Dr. Florival é homenageado, dando o nome a organizada Biblioteca Municipal de Itabaiana.

A mãe de José Augusto Melo, Maria Dulce Melo (Dona Dulce), era outra personalidade ligada a cultura. Foi ela, com as sobrinhas, as filhas de Dona Antonieta, Didi, Iracema, Josefina e Virgínia, que montaram a primeira peça teatral em Itabaiana, no Mercado Municipal.

Dulce e Antonieta era filhas de Joãozinho de Totoninho, Prefeito de Itabaiana.

Dona Antonieta, a dona da pensão, era casada com Tibério Bezerra, fazendeiro das bandas do Mocambo, Frei Paulo, sobrinho do deputado Guilhermino Bezerra. Além das meninas do teatro, a família possuia três filhos: Rivadávio, Antonio da Pensão e Zé Bezerra.

Zé Bezerra foi um famoso ator, cantor, músico e mágico, aluno de Procópio Ferreira, e dono do Circo e Teatro José Bezerra, a maior iniciativa cultural de Itabaiana, no século XX.

Zé Bezerra foi assassinado na cidade de Queimados, na Bahia, e sepultado em cova rasa. O maior artista de Itabaiana está à espera da remoção dos seus restos mortais, para as devidas homenagens.

O Prefeito Adaílton já revelou publicamente, que dará o nome de Zé Bezerra, ao futuro teatro de Itabaiana, que está sendo gestado.

Dona Dulce, além do Teatro, consolidou o espiritismo em Itabaiana. Antes de Dr. Pedro Garcia Moreno.

O espiritismo chegou pelas mãos de um funcionário dos Correios, que veio de Fora. Seu João de Cula (dos Correios) e a sua esposa, Dona Anita, trouxeram a doutrina de Allan Kardec para Itabaiana. As primeiras sessões ocorreram na casa de Dona Dulce.

Essa longa introdução, foi necessária para fundamentar a grandeza dos “Melos” em Itabaiana. José Augusto Melo nasceu em 23 de janeiro de 1940, o caçula da família. José Augusto Melo foi um príncipe, um dos pouco ceboleiros que não possui apelidos e, o mais raro, só é tratado pelo nome completo. É o único itabaianense com esse privilégio. Sempre é tratado solenemente: José Augusto Melo.

José Augusto Melo fez o primário com a professora Maria Branquinha, sob a vigilância da palmatória, e no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra. Após submetido ao Exame de Admissão, compôs a 4ª turma do Ginásio Murilo Braga.

A formatura no Ginásio era celebrada festivamente, com bailes e foguetórios. Os estudantes festejavam nas ruas, a grande conquista.

Concluído o ginásio, restavam aos jovens itabaianenses, três opções: ingressar numa universidade, ainda eram poucos; fazer o concurso do Banco do Brasil, um grande emprego, ou ir tentar a sorte no sul do País.

As mudanças econômicas em Itabaiana ainda estavam engatinhando. Não tinha empregos para gente estudada. Os poucos filhos de ricos, poderiam continuar os negócios da família.

Aliás, pequenos negócios. A Praça da Feira era tomada de lojas de tecidos, lojas de 2 portas. Lembro-me de algumas: na esquina, a loja de Seu Abílio; em seguida: as lojas de Abércio de Bastos, Jubal, o pai de Vlademir, Zé Crispim, Seu Rosendo, onde se vendia pano para colchão de junco. No outro lado da Praça, as lojas de tecido de Adelardo, Edson Leal, João Leite, Zé Machado, o pai de Zé Carlos Machado; e Adalberto Leal.

A indústria de confecções acabou com as lojas de tecido. Hoje, a mesma Praça em Itabaiana, é tomada de clínicas, dentistas, psicólogos, farmácias, oculistas, xamãs e curandeiros. A indústria da saúde tomou conta.

Das primeiras turmas do Ginásio Murilo Braga, muito foram para o Banco do Brasil: Zé Queiroz, Carlinho Siqueira, Clodomir Andrade, João Bosco, Renan de Vicentinho, Reginaldo, filho de Zeca Mesquita, Camerino, filho de Edson Leal; Airton, irmão de Zeca Araújo, Paulinho de Doci, Oswaldo de Vivi, e tantos outros ceboleiros.

O voleibol chegou a Itabaiana, no campinho ao lado da casa do Sargento Baltasar, pelas mãos dos funcionários do BB. Eu achava que era Tenente.

José Augusto Melo, com 11 anos, jogava voleibol com alguns funcionários do Banco, não sei se o meu amigo Raimundo Luiz jogava; Jorge de Maruim, o goleiro; Seu Flodoaldo, o pai de Magnólia; Mané de Santinho; Cansanção, agrônomo da Fazenda Grande e Tonho de Doci. São os fundadores do Voleibol em Itabaiana.

Os funcionários do Banco do Brasil também levaram para Itabaiana o gosto pela cerveja. Antes, os ricos tomavam uísque e a arraia-miúda casca de pau. Desconheço a história do vinho. A gente sabia quando a turma do Banco chegava no Bar Brasília, pelos pedidos: sucos, sanduíches de pão de queijo ou de quitute. Os mortais, pediam vitamina de banana e pão com requeijão, geralmente, requeijão com casca.

José Augusto Melo, ao terminar o ginásio, foi para o Rio de Janeiro, tentar servir na aeronáutica. Não deu certo. Sentou praça no exército. Veio embora com menos de dois anos. Passou pelo Banco Resende Leite, Petrobrás, até se acomodar no BANESE, onde foi gerente em vários municípios, até se aposentar.

José Augusto Melo, casou em 1970, com Dona Zezé, herdeira de Etelvino Mendonça. Tiveram três filhos: Adriana Ly, Dilma e Augusto César.

Hoje, José Augusto Melo, vive bem, ao lado de Dona Zezé, com seis ponte de safenas, sensação do dever cumprido, boa cabeça e muitas lembranças. Um homem com raízes profundas em Itabaiana grande.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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