A fé católica está viva?Por Antonio Samarone.

Ontem, ao chegar em Itabaiana, sentir um forte cheiro de religiosidade. A peregrinação de Santa Dulce, no dia anterior, foi uma apoteose de fé. Como explicar uma multidão (15 mil pessoas) andando 13 km, subindo um pé de serra, para venerar uma Santa, se o esvaziamento da Igreja católica é um fato.

Por que os devotos ainda resistem, andam léguas, sobem serras, fazem promessas e acreditam em milagres? A fé sobreviveu!

Os estudiosos das religiões atribuem o elevado crescimento dos pentecostais no Brasil, ao afastamento da Igreja Católica dos mais pobres.

O Papa João Paulo II eliminou a teologia da libertação da igreja. Em 22 de outubro de 1978, o polonês Karol Józef Wojtyła realizou sua primeira missa como papa João Paulo II, Já pregando o fim da teologia de libertação.

Entretanto, como disse Dom Pedro Casaldáliga: “Deus e os pobres continuam.” O espaço religioso ficou aberto nas periferias, e os evangélicos ocuparam.

No geral, essa análise é procedente.

Mas, essa tese não se aplica em qualquer canto. Em Itabaiana, nunca existiu a teologia de libertação, pelo menos que eu soubesse, nem os evangélicos se expandiram tanto por lá, como em outras terras.

Até 1965, quando as resoluções do Concílio Vaticano II entraram em vigor, Itabaiana tinha a sua vida cultural centrada na Sacristia.

A igreja católica era o centro da vida cultural em Itabaiana. O fim do ritual tridentino, foi um baque, para um povo que acredita em milagres, adora o Padre Cícero e o Frei Damião e, mais recentemente, passaram a adorar a Santa Dulce dos Pobres.

Claro que não foram só as mudanças no catolicismo.

Na década de 1960, Itabaiana transitava de colonia agrícola, para um polo comercial; de rural para urbana, a educação assumia o seu papel, o capitalismo mercantil crescia, o fim dos artesões (sapateiros, alfaiates, ourives, padeiros e marceneiros).

Mudava-se o modo de vida! O enfraquecimento da influência da igreja católica em Itabaiana, foi evidente.

Como disse o Cardeal Casaldáliga, mas a fé não abandonou o povo. Itabaiana viveu 350 anos sob a égide da igreja católica. A sua principal entidade cultural, a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, foi fundada pela igreja.

Em qualquer aflição, o povo recorria a Santo Antonio!

A minha hipótese para a espantosa manifestação de fé na peregrinação de Santa Dulce ontem, em Itabaiana, é a fé represada do povo.

O novo Arcebispo do Aracaju, Josafá Menezes da Silva, um baiano de Salinas da Margarida, teve a sensibilidade para perceber que esse caminho está aberto.

Os devotos querem voltar ao ninho católico. O sonho do Papa Francisco, de uma igreja voltada para os pobres, está em andamento.

A igreja se afastou dos pobres, mas não tirou deles a sua fé. Eles voltaram aos bandos, multidões em busca de Cristo. O caminho de volta, em Itabaiana, é a devoção por Santa Dulce. Dom Josafá já percebeu.

Os devotos querem a igreja católica de volta. O fim da teologia de libertação foi um erro, uma medida ideológica dos tempos da guerra fria.

A alma do homem ainda busca a redenção.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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