AS TRIPAS DO BOI DA CARA PRETA [II]

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Gutemberg A. D. Guerra; Manoel Moacir C. Macêdo; Manoel M. Tourinho

A autoridade para estabelecer os padrões de juízo sobre a existência humana e suas contradições é, talvez, um dos elementos a ser tomado como ponto de partida para entender algumas das disputas no plano das ideias que regem as correntes de pensamento mundial.

O Estado dito moderno, organização social constituída pela formação de territórios identificados como nacionalidades, domínio de monarcas feudais, constituídos como poder na base da força militar, teve duração de alguns séculos. Eles se autoproclamavam com um poder divino e essa qualidade foi ungida por autoridades eclesiásticascristãs. Os papas coroaram os reis durante séculos.

As revoluções burguesas do século XVIII, em particular a francesa e a americana, modificaram essa premissa estabelecendo que todo poder “emana do povo” e que “em seu nome será exercido”. As constituições laicas sacramentadas por representações eleitas pelo povo passaram a ser a chancela da formação dos poderes executivo e legislativo, desde então. Embora a delegação que o povo passa aos seus representantes venha incidindo em quem tem mais capital para manipular as eleições e manter os interesses históricos das minoritárias classes dominantes e preterindo a maioria dos dominados. O nó continua apertado e difícil de desfazer por conta das premissas simbólicas em que está calcada a natureza do poder e suas heranças familiares e de classe.

O histórico Jesus Cristo, que marcou a humanidade, antes e após ele, numa perspectiva subversiva ao status quo, se colocou como autoridade divina para enfrentar o império romano que se mantinha pela força militar e era impossível de ser batido belicamente por forças terrenas. A sua mensagem libertária não construiu nenhuma igreja e não estabeleceu nenhuma crença. Embora se assumindo como Deus, foi julgado como ameaça ao plano concreto dos romanos, mesmo tendo jogado as contradições para serem resolvidas em outro plano, o espiritual.

Por analogia, um revolucionário prenhe de compaixão e piedade numa contingência de dominação completa dos meios de produção por autoproclamados divinos. Em um certo sentido, a Teologia da Libertação tanto quanto a da Prosperidade reinterpretam o Evangelho numa perspectiva humana, vis-à-vis o sentido material do Reino dos Céus, que começa aqui e, portanto, seguindo a perspectiva da dialética materialista, é no plano concreto, onde vivem e trabalham as pessoas, que devem ser resolvidas as contradições e desigualdades. A repartição é o meio santificado para uns enquanto a acumulação é o meio para outros. 

O problema é que ambas as comunicações religiosas e sociais, não têm bastado para resolver as contradições capitalistas em sua lógica acumulativa e desigual. Continua o sofrimento dos menos favorecidos com as oportunidades que uns tem e outros não. 

E afinal, o comunismo sofre as mesmas ameaças e preconceitos do passado, como “boi da cara preta” que se diz ameaçar a todos para que não sejam acordados do sono profundo e nem ousem entender os medos que se encerram nas tripas deste mesmo boi.

Gutemberg A. D. Guerra, Manoel Moacir C. Macêdo, e Manoel M. Tourinho, são

engenheiros agrônomos e pós-graduados em Ciências Sociais.

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