ITABAIANA, 350 ANOS – FRANCISCO TAVARES DA COSTA (FEFI)

Itabaiana, 350 anos – Francisco Tavares da Costa (Fefi)
(por Antonio Samarone)

Papai Noel é antigo, nasceu de uma lenda de São Nicolau, um santo que distribuia brinquedos. Pelo que se conta, Papai Noel é um velho barrigudo, de barbas brancas e se veste de vermelho. Vive na Lapônia.

No Natal, ele levava presentes para os meninos.

Um prato cheio, para se estimular o consumo. Eu, até os 12 anos, não sabia da sua existência. O meu primeiro contato com o bom velhinho, foi no Armarinho Tem Tem. O dono do armarinho, Fefi, resolveu levar o Papai Noel para Itabaiana. Os pais passavam antes, comprava o brinquedo, e Papai Noel ia entregar em casa.

Assanhou todo mundo!

Fefi, mandou buscar a fantasia completa de Papai Noel no Rio de Janeiro, vestiu Juvino Barbeiro e os sonhos estavam prontos. A discussão se existia ou não Papai Noel estava encerrada. Ele estava ali, em carne e osso.

O Armarinho Tem Tem, de Fefi, foi um assombro em Itabaiana. Vendia de tudo. Perfumes bons, louças e cristais, brinquedos da estrela, e até sanfona. O Armarinho colocou o primeiro letreiro luminoso, em Itabaiana. Para completar, trazia Papai Noel.

Francisco Tavares da Costa (Fefi), nasceu no Beco Novo, Itabaiana, em 26 de agosto de 1933, um ano depois da grande seca. Filho de Totonho de Quirino, da Terra Vermelha, e Dona Graça, que fazia enxoval de batizado. Para variar, teve 10 irmãos.

Fez as primeiras letras com a professora Bernadete, esposa de Francisquinho Barbosa, o pai de Ricardo, na rua da Pedreira; depois passou pela escola de Dona Cândida, concluindo os estudos na conceituada escola de Maria de Branquinha, de onde saiu diplomado. Curso primário completo. E só.

Fefi, como todo menino pobre, foi se virar. Trabalhou de garçom, no Bar de Tonho Lima; balconista da farmácia do Dr. Eliseu; ajudante de sapateiro, na Tenda de Seu Firmino, irmão de Vicentinho.

Ao completar 18 anos, foi morar em Magalhães Bastos, subúrbio do Rio de Janeiro. Arrumou emprego na Casa Francisco Lopes, na rua Buenos Aires, no centro do Rio. Uma loja granfina de cristais e artigos para presente. Essa experiencia ajudou, na montagem do Armarinho Tem Tem.

A saudade da mãe bateu forte, e Fefi voltou para o ninho, depois de 3 anos morando no Sul Maravilha. Um caminho de muita gente.

No retorno a Itabaiana, Fefi montou o Bar São Jorge, um pequeno estabelecimento, vizinho ao cinema de Zeca Mesquita. Em seguida, Zé Gordinho, a pedido de Dona Graça, cedeu um salão com duas porta, vizinho a padaria, onde Fefi instalou o bar O Pinguim.

Esse novo bar de Fefi, inovou nos tira-gostos. Antes, em Itabaiana, nenhum bar vendia salgadinhos (pastel, coxinhas, guloseimas da Confeitaria Colombo). Fefi vendia refresco de mangaba, vitamina de banana e sanduíche de queijo do reino.

Outra novidade, Fefi descobriu os bebedores de cerveja em Itabaiana: os funcionários do Banco Brasil, Josias Dentista e os filhos de Zeca Mesquita. O Bar vendia dois engradados por semana. Seu Zeca tomava uísque e fumava charutos importados.

O Pinguim não possuia sanitários. A freguesia mijava na calçada, atrás do poste. Quando o sol batia, o fedor de mijo empestava o quarteirão. Só lembrando: o bar era vizinho a padaria de Zé Gordinho, em salão cedido por ele.

Não demorou, Zé Gordinho deu o ultimato: ou acaba o fedor, ou eu tomo o salão de volta. Resultado, Fefi comprou um purrão, um vaso de barro grosso, e passaram a mijar dentro desse pote.

Quando enchia, Fefi botava o mijatório na cabeça, descia pelo beco de Tonho de Rosário, e despejava numa baixada, perto das Trocas.

Fefi modernizou os serviços de bar, em Itabaiana.

Depois dos bares, Fefi criou o Armarinho Tem Tem, que falei no início do texto. Além de Papai Noel, Fefi criou em Itabaiana, um show de calouros, comandado pelo versátil Djalma Lobo. Ou seja, Festival de Música em Itabaiana, vem de longe.

Fefi sempre foi festeiro. A partir da segunda metade da década de 1950, estimulado por Euclides Paes Mendonça, Itabaiana organizou carnavais, com blocos, desfiles, jurados e disputas. Os músicos vinha do 28 BC.

Quatro blocos se destacavam. O “Lobo do Mar”, com a marchinha se a Canoa não virar; o “Margem da Serra”, com a marcha índio quer apito, “A Lua dos Enamorados”, com a marchinha do mesmo nome, e o bloco de João Rocha, do Campo Grande. O Margem da Serra era comandado por Seu Pierro e João Criano e o Lobo do Mar, por Fefi.

Garantidamente, todo mundo em Itabaiana se mete em política. Fefi era pessedista, apoiava Manoel Teles. Na eleição de 1958, o poderoso Euclides Paes Mendonça voltou a disputar a Prefeitura. A oposição, impotente, lançou o médico humanista Pedro Garcia Moreno.

Com o PCB na ilegalidade, o comunista Antonio de Dóci teve a sua candidatura a vereador rejeitada pelo PTB, comandado em Itabaiana, por Antonio de Rosinha. Sem saídas, Antonio de Dóci procurou Fefi, que nunca teve nada a ver com o comunismo, para representar o Partido nesta eleição. Um pedido feito a um amigo.

Fefi não podia nega, ficou sem jeito.

Antonio de Dóci, um homem culto e cheio de argumentos, tranquilizou Fefi. Pode deixar que a gente faz as chapinhas e mobiliza a militância comunista. A sorte estava lançada. Fefi era um nome popular, bem-visto, com centenas de amigos, e ainda por cima, apoiado pelos comunas.

A campanha foi uma festa. Faltando 15 dias para as eleições, as 3 mil chapinhas já tinha sido criteriosamente distribuídas. A vitória estava garantida.

Na apuração dos votos, uma surpresa: dos 3 mil eleitores que receberam a chapinha de Fefi, somente 36 votaram.

Esta era a força dos vermelhos em Itabaiana. Muitos anos depois, Abraão Crispim se candidatou a Prefeito de Itabaiana, e teve um pouco mais de 100 votos. Talvez, hoje, chegasse a 200.

Fefi conta essa trágica experiencia política, com acentuado bom humor.

Fefi criou o Rotary, o carnaval, Papai Noel, o programa de calouro, o bar moderno e a gráfica. Fefi criou a alegria. Foi o fundador da festa profana. Antes, só existia em Itabaiana, festas religiosas.

Fefi foi o primeiro agente cultural, em Itabaiana. Fefi é o torcedor símbolo da Associação Olímpica. Ele é anterior a fundação do tricolor. Viu tudo. Esteve presente em todos os jogos, carregando a bandeira tricolor. Na vitória e na derrota.

Fefi me apresentou a Papai Noel, como disse acima, e ao Fluminense. Fefi foi o primeiro torcedor do Fluminense, em Itabaiana.

Uma história prosaica: a sua mãe, Dona Graça, trouxe do Rio de Janeiro três camisas do fluminense: deu uma a Fefi, outra a Tonho, da Papelaria Brasil, e a última a Zé Bengala. Estava criada a torcida organizada do Fluminense, em Itabaiana. Eu entrei em 1963, aos nove anos.

Fefi (91 anos), está em plena vitalidade mental. Foi casado com Marlene (que merece um verbete), e tiveram dois filhos: Marco Antonio e Carlos Henrique.

Francisco Tavares da Costa foi um empreendedor da alegria, da festa e da cultura em Itabaiana.

Viva Fefi!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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