O GRANDE ENCONTRO [X] O CUNHADO DO GOVERNADOR

Redação, 12 de Dezembro , 2020

A narrativa da história de vida no curso de engenharia agronômica da Universidade Federal da Bahia – UFBA, não esgotou na cronologia temporal de quatro anos, do vestibular à formatura nos anos setenta. Os vínculos entre o passado e o presente continuaram na vida profissional. Confraternizações aconteceram. Encontros sucederam no ambiente de trabalho na CEPLAC, EMBRAPA, EPABA E EMATERBA. Os protagonistas, eram os colegas do tempo de estudante.

O ator principal dessa história é o colega Nando para os íntimos. Para os demais Carlos Fernando. Um bem-criado da turma. Vivo e saudável entre nós. Bem afeiçoado e jovial. Não residia no campus, mas numa república na cidade. Dono de cobiçado automóvel. Seletivo nos relacionamentos. Jamais conheceu os finais de semana em Cruz das Almas. Namoro certo em Salvador. Embora não se gabasse dessas qualidades. Poucos contatos tivemos durante o curso. As nossas vivências eram diferentes. Aproximações aconteceram no curso de mestrado na Universidade Federal de Viçosa - UFV, uma década após a nossa graduação. Maduros na idade e na vida. Colegas pela segunda vez.

Na UFV, cursamos o mestrado de extensão rural no departamento de economia rural, que oferecia os cursos de mestrado e doutorado em economia rural. Além de disciplinas comuns, tínhamos relacionamentos com estudantes desses cursos. Entre outros colegas, convivemos com Murilo Flores, jovem engenheiro agrônomo da EMBRAPA. Outro bem-nascido. Alvo de olhos verdes como Nando. Filho de militar de alta patente. Ministro de Estado em duas oportunidades. Chegou recém casado com a filha do engenheiro agrônomo Renato Simplício, histórico da UFV e da extensão rural brasileira. Eu, o terceiro e modesto plebeu entre eles. Curso de mestrado concluído, dissertações defendidas, cada um seguiu o seu caminho. Uma década passada, um reencontro entre os três. Dessa vez não foi na sala de aula, mas na labuta profissional. Murilo Flores, tornou-se Presidente da Embrapa, eu o seu Chefe de Gabinete e Nando continuava na CEPLAC, transferido do Pará para a Bahia.

Antes do encontro a três, uma pausa, para o encontro a dois. Decorrente da amizade no mestrado, o Murilo após o mestrado, tornou-se o Chefe Geral do então Centro Nacional de Pesquisa em Defesa da Agricultura - CNPDA em Campinas, São Paulo e me convidou para trabalhar por lá. Acetei. Fui o seu diretor administrativo. Função que também desempenhei na Embrapa Mandioca e Fruticultura em Cruz das Almas na Bahia. Como nordestino, planejei trabalhar em São Paulo. Novos desafios, saberes e conquistas. Murilo, um estrategista, desejava ser o Presidente da EMBRAPA. Meta alcançada. Capacidade ímpar de formar equipe. Firme nas convicções. Agrega díspares sem arrogância. A mim coube a Chefia de Gabinete da Presidência da Embrapa. Noutros feitos, estivemos juntos, a exemplo da criação da Embrapa Meio Ambiente. A primeira unidade de pesquisa da EMBRAPA dedicada às questões ambientais. O meio ambiente naquele tempo, não era uma atividade científica, mas uma ideologia de “ambientalistas aloprados”. A ecologia gatinhava como ciência. Com a sua liderança, participei do nascente Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF. O primeiro programa público e específico para os agricultares familiares do Brasil.

Voltando ao Nando. Numa das viagens à Bahia, o Presidente Murilo, visitou o Governador da Bahia, Paulo Souto. Ao elaborar a agenda da viagem, lembrei do Nando. Além de colega por duas vezes e competência profissional, era cunhado do Governador. Jamais gabado por ele. Conhecemos as “táticas do poder”. Conversei com o Murilo, que tratasse com o Governador a indicação de Nando, para o cargo de Diretor Técnico da Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia - EPABA. Estatutariamente uma coligada da Embrapa.

Aguardei o retorno do Presidente da Embrapa à Brasília para preparar os atos de posse. Nando, nada sabia. O improvável aconteceu. Disse Murilo, que o Governador não prosperou com a sugestão. Duvidei da justificativa. A racionalidade é um traço do poder. Diálogo entre políticos não são emocionais. Na viagem seguinte à Bahia, acompanhei o Presidente Murilo. Audiência confirmada. Presentes o Governador Paulo Souto, o Presidente da EMBRAPA e eu. Combinei que trataria do “assunto Nando”. Fui direto. Elogiei o colega e as qualidades para o cargo. O Governador ouviu e respondeu: “sei que vocês foram colegas” e nada mais disse. Tempo depois, soube que para o honrado Governador a indicação seria um ato de nepotismo. Perdemos a indicação, mas não a amizade e nem o brilhante colega.


Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo


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