A Revolução dos Bichos. (Por Antonio Samarone)

Redação, 29 de Junho , 2021

Em 19 de julho de 1979, Eu estava no ECEM (Encontro Científico dos Estudantes de Medicina), na Universidade Federal da Paraíba. Comemorei efusivamente a queda do sanguinolento ditador Anastácio Somoza (45 anos no poder).

Era a Revolução Sandinista!

Eu estampei no peito o “botton” da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Uma revolução ampla, marxistas e cristãos juntos (Teologia da Libertação). Prometiam um reino de liberdade na Nicarágua.

Sérgio Arouca, a maior expressão do movimento sanitário brasileiro, ajudou na elaboração da política de saúde da Revolução Sandinista.

A Frente Sandinista foi assim chamada em homenagem ao líder de esquerda, Augusto César Sandino, assassinado em 1934, por tropas americanas que invadiram a Nicarágua.

A Revolução Sandinista governou a Nicarágua até 1990, sob a liderança de Daniel Ortega, quando foi derrotada nas urnas por Violeta Chamorro.

Até então o discurso era perfeito. Uma revolução democrática, que aceitava até o revezamento no poder.

A Nicarágua vivenciou a sua experiência neoliberal, após o período revolucionário.

Os Sandinistas voltaram ao poder em 2007, com a eleição de Daniel Ortega. O líder nicaraguense reassumiu prometendo combater o capitalismo selvagem e o neoliberalismo, que haviam sido implantados depois de 1990.

De lá para cá as coisas não andaram bem com a economia nicaraguense. O capitalismo é global e sufoca qualquer sonho alternativo.

Resta à esquerda latino americana, populista ou não, quando governa, dar uma face humana ao capitalismo periférico?

É a história da América Latina nos últimos anos: a esquerda tentando, sem sucesso, superar séculos de injustiças e desigualdades. Com pequenos avanços e grandes retrocessos.

O PT governou o Brasil por 13 anos, sem mexer com o projeto neoliberal. Pelo contrário, contribuiu para o seu fortalecimento. A justiça social foi uma distribuição de renda possível, limitada, sem mexer nas estruturas.

A famosa classe “C” desapareceu com a mesma rapidez como surgiu. Claro, mesmo assim foi um pequeno e efêmero avanço.

Os governos de direita na América Latina, geralmente, cuidam da violência e do saque das riquezas nacionais. Desconheço qualquer experiência bem-sucedida. O Brasil está atravessando uma forte tempestade.

Não conheço os detalhes da luta política na Nicarágua. Acompanho de longe. Mas parece que a revolução sandinista começou como uma crônica de García Márquez e está terminando como como a Revolução dos Bichos, livro de Orwell.

Às vésperas de uma nova eleição na Nicarágua (em novembro de 2021), Daniel Ortega, da FSLN, busca a quarta reeleição, depois do retorno em 2007.

A direita acusa Ortega de repressão política. A FSLN diz que está prendendo criminosos.

A grande imprensa aponta vícios no processo eleitoral e acusam Daniel Ortega, líder de uma revolução esperançosa, de estar repetindo a tirania de Anastácio Somoza.

A FSLN diz estar construindo uma Nicarágua mais justa. O velho conflito liberdade/igualdade.

A luta política passa principalmente pela disputa de narrativas.

Antonio Samarone (médico sanitarista)


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