PRAGMATISMO E PERSONALISMO

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No próximo domingo, dia 20 de outubro, os quatro municípios sergipanos mais antigos do interior – Itabaiana, Lagarto, Santa Luzia do Itanhi e Santo Amaro das Brotas – completarão 327 anos. 

Há exceções, óbvio; mas a História sergipana tem sido tratada como uma diversão de intelectuais a digladiarem-se sobre quem fez mais e melhor, sem duas qualidades fundamentais acerca do bom sucesso de uma ideia: a valorização do árduo trabalho dos predecessores; e a difusão, quanto mais massiva, melhor, dos conteúdos. Sua democratização.

Especificamente, sobre Itabaiana, não se foge à regra estadual. Com o agravante que a História, tida como coisa do passado, inútil, portanto, e num lugar de alfabetização tardia, e muito suor para sobreviver, como o pragmatismo está intrinsecamente associado ao personalismo, esses “detalhes”, quando muito é considerada detalhe; e ínfimo.

Eppur se mouve, como diria Galileu Galilei. Paradoxalmente, é justo de Itabaiana, especialmente na árvore dos Carvalho a inconformidade com esse estado de desprezo pelo passado. A começar por Lima Jr.; bastão mantido em movimento por Sebrão, o sobrinho; e finalmente passado a Vladimir Souza Carvalho.

Contudo, se hoje é desanimador, sem uma política pública de ensino de História local no Fundamental, no passado recente foi bem pior, em todo o Sergipe. Como exemplo, se deve a um cearense – não um sergipano – Acrísio Torres Araújo, a popularização da História de Sergipe, mediante o ensino fundamental. Por sorte, logo a seguir veio a Universidade Federal de Sergipe e consequente florescer inclusivo da intelectualidade e das ciências sociais, dentre as quais, a História.

E eis que uma itabaianense, Maria Thetis Nunes, de espírito pragmático, como comum nos da terra, porém de personalismo atenuado, a partir da recém-nascida UFS, liderou o processo que, ainda em andamento, busca escrever a história de Sergipe como ela é. Feita de pequenos capítulos, parágrafos, incisos e alíneas. Tudo o que compõe o todo; que conecta, vai além do provincianismo de vila contra vila, capital contra interior.

Singelo monumento, de significado quase desconhecido pela esmagadora maioria, inaugurado com solenidade simples demais para o que representa para a identidade itabaianense e até sergipana.

Data desperdiçada

O ano de 1997 transcorria como qualquer um, pós, e pré-eleitoral em Itabaiana. Primeiro ano da segunda administração de Luciano Bispo de Lima, e, à medida que se aproximava o fim do ano, a reexcitação eleitoral para 1998.

Um despretensioso encontro entre aluno – José Taurino Duarte – e sua mestra, a professora Maria Thetis Nunes, em pleno Calçadão da João Pessoa, na capital, daria origem a mais um evento, no sentido de dotar Itabaiana de uma História, com h maiúsculo, conhecida, popular. Realmente engrandecedora e digna de orgulho dos seus filhos.

Como dito, estávamos em 1997. E lembra o professor Taurino, que Thetis o parabenizou pelos 300 anos, três séculos de Emancipação Política de Itabaiana, com a instalação da sua Câmara Municipal; e sugerindo as necessárias medidas para o enaltecimento da data; sua comemoração.

E, no dia 20 de outubro de 1997, uma Câmara de Vereadores, um pouco envergonhada, acompanhada de uma alcaidaria (prefeitura) completamente descompromissada, meramente protocolar, com algumas palavras da boca para fora, inaugurou o monumento simples, engendrado às pressas pelo artista plástico José Valde dos Santos, Val decorador, que felizmente continua no local.

Por não se tratar de uma data faturável politicamente, só não foi completamente ignorada, como o 30 de outubro de 1975, por ter a feliz conjunção de Maria Thetis Nunes com todo peso da sua autoridade acadêmica, a estimular; o encrenqueiro professor Taurino; e na Presidência da Câmara Municipal de Itabaiana, o professor, feito vereador, João Alves dos Santos, popularmente conhecido como João Patola.

A pequeniníssima popularidade ficou como uma excrescência; “coisa de João Patola”. Sequer da Câmara Municipal, segundo seus vereadores, e textualmente citada no texto do decreto, recuperado por Thetis Nunes; muito menos da Prefeitura. Supostamente “nada a ver com isso; só fui pra fazer o favor a João Patola.”

Pessoalmente, “comi capim” nesse assunto por muitos anos, até ser despertado pelo citado acontecimento, via Taurino Duarte, tangido por Thetis Nunes.

No próximo domingo, dia 20 de outubro, os quatro municípios sergipanos mais antigos do interior – Itabaiana, Lagarto, Santa Luzia do Itanhi e Santo Amaro das Brotas – completarão 327 anos. Parece-me que só Santo Amaro das Brotas relembra tal data.

A segunda quinzena de outubro, portanto, tem as duas mais importantes datas na história de Itabaiana: dia 20, sua emancipação de São Cristóvão; e dia 30, data de fundação da cidade, que, realizado com sua paróquia original, 22 anos antes, em 1675, fará 350 anos no próximo, em 2025.

Antecipo, pois, os meus parabéns aos quatro municípios, pais de todos os demais que vieram a seguir, ampliando a grande árvore iniciada por São Cristóvão de Sergipe d’El-Rei.

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