Manoel Moacir Costa Macêdo
A formação econômica do Brasil, está vinculada aos modos de produção agrícolas. Monoculturas,Capitanias Hereditárias, escravidão e extensões de terras de perder-de-vista, marcaram a “ferro e fogo”, a identidade nacional.
Pau-brasil, cana de açúcar, café, seringueira,cacau e pecuária extensiva, definiram o padrão da sociabilidade brasileira. Escravidão negra e terrasabundantes, definiram o modo de produzir e acumular.
O passado e contemporaneidade grosso modo, se encontram em contingências similares, Na atualidade, o Brasil é um expressivo produtor de matérias-primas oriundas da agropecuária. No mercado global um relevante exportador de commodities agrícolas, em seletivos e específicos produtos, como soja, milho, algodão e carnes.
Como consequência, dependência tecnológica,acumulação de riqueza em poucas mãos e abismal desigualdade. No dizer do professor da Universidade de Harvard dos Estados Unidos, o brasileiro Mangabeira Ungler, o Brasil está inserido no comércio global como um “produtor de natureza bruta”, em troca de conhecimento refinado e tecnologia avançada. Combinação de “desigualdade com mediocridade”.
No Brasil, continental País, a região Nordeste, expressa essas contradições. Ciclos da cana de açúcar, pecuária extensiva e cacau. Engenhos, extensas fazendas, escravidão, mando, concentração de riqueza, poder e desigualdadedefiniram as relações sociais vigentes. O Estado de Sergipe, o menor do País em extensão geográfica foi produtor de cana de açúcar com os seusengenhos. Influências que percorreram do passado ao presente. Não raro, uma família patriarcal dotada de terras e poder, não possuía um engenheiro agrônomo em sua prole. Simbologia da economia agrária, prestígio e ascensão social.
José Trindade, engenheiro agrônomo pela centenária Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, diplomado na contemporaneidade, não carregava nem sobrenomes de famílias tradicionais e nem detinha latifúndios. De Boquim, Sergipe, geografia de sua reencarnação, ganhou relevância pelo caminho da ciência, como pesquisador na cultura dos citros.
O labor de pesquisador ultrapassou a ciência citrícola, para alcançar a política, inicialmenteagregando os produtores sergipanos de laranja numa vigorosa Associação, e adiante, como Prefeito de sua cidade natal, eleito por dois mandatos pelo PSB – Partido Socialista Brasileiro. Feitos desempenhados com honestidade e competência. Primou pela ética pública e privada.
Aclamado por seus pares e destacados pesquisadores da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, IAC – Instituto Agronômico de Campinas, e IB – Instituto Biológico de São Paulo, entre outras organizações nacionais e internacionais pelo desempenho técnico-científico. A sua contribuição, liderando uma equipe de diligentes colegas na Estação Experimental de Boquim, ajudou no seu tempo, a situar o menor Estado do País, como o maior produtor de laranja do Nordeste e o segundo do Brasil. Pai, esposo zeloso, e diligente produtor citrícola.
Zé Trindade, como é carinhosamente lembrado, está fincado nos registros da história, na obra biográfica de merecido título: “José Trindade – Um Homem Singular, Um Ser Especial”.
Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.