Aracaju foi construída sobre aterros embelezados de charcos, canais, riachos, brejos e manguezais. A Saúde Pública temia os miasmas: as sezões, as febres intermitentes, a bexiga e a cholera morbus. Entretanto, Aracaju sobreviveu e chega aos 170 anos.
O futuro do Aracaju depende de uma mudança de rumos, na direção de um desenvolvimento sustentável. Resta pouco território e não podemos errar. A chamada área expansão é ambientalmente frágil.
Vou limitar-me a bacia do Vasa Barris, mais especificamente ao pouco conhecido Rio Santa Maria (foto). O Rio Vaza Barris é o que banha a Canudos de Conselheiro. Tem história, o que daria consistência ao turismo.
O Rio Santa Maria nasce nas matas do Caípe Velho, é um afluente da margem esquerda Vaza Barris. Já foi o principal caminho para o transporte do coco entre o Condado do Mosqueiro e Aracaju.
Entre 1840-44, o rio Santa Maria recebeu uma obra de engenharia de grande porte. Foi aberto um canal até o rio Poxim, possibilitando a comunicação direta entre as embarcações que transitavam pelo Vaza-Barris e o Sergipe, sem ter o grande inconveniente de navegar pelas duas perigosas barras.
O coco chegava ao mercado central do Aracaju, através do Canal de Santa Maria.
O Canal de Santa Maria recebeu melhoramentos em 1932, tornando-se uma via navegável para as embarcações da época. As canoas eram empurradas por grandes varas, deixando uma marca no tórax dos canoeiros. Uma deformação ocupacional.
O atual e promissores complexos habitacionais Santa Maria e 17 de março, a antiga Terra Dura, foi a resultante de ocupações desordenadas e precárias, por pessoas carentes em busca de moradia e da iniciativa pública construindo conjuntos habitacionais. Lembro-me das ocupações mais importantes: as do arrozal, morro do avião, uma parte do loteamento Marivan, Prainha, gasoduto.
Contudo, a mais grave, do ponto de vista ambiental, foi a ocupação do trecho do canal Santa Maria (Terra Dura), que permitia a ligação fluvial entre os Rios Vaza Barris e Sergipe. Hoje, seria uma fabulosa rota turística.
O canal foi aterrado e ocupado por pessoas carentes e aproveitadores durante o Governo Valadares. Hoje resta um “córrego”. Durante esse mesmo governo, foi construído na Terra Dura, um conjunto habitacional que levou o seu nome.
Atualmente, a parte navegável do Rio Santa Maria chega até a chamada curva do Rio, no Bairro São José dos Náufragos, onde está se implantando um empreendimento imobiliário de mil lotes. Não sei até quando a natureza resiste.
Com as mudanças das denominações das localidades da Zona de Expansão para “bairros”, cresceu a expectativa de uma invasão da especulação imobiliária, pondo abaixo o que resta de restingas e manguezais. Deus nos proteja!
Não sou contra o desenvolvimento do Aracaju, pelo contrário, desde que seja um crescimento sustentável. É só impor regras civilizadas. Basta espirito público dos gestores.
Eu desconheço a política ambiental da Prefeita Emília. Há meio século, a gestão urbana do Aracaju esteve sob a tutela da indústria da construção civil. Espero, ingenuamente, que a Prefeitura do Aracaju cuide da questão ambiental e só permita uma ocupação sustentável, dessas áreas na Zona de Expansão.
É o futuro da qualidade de vida do Aracaju.
Antonio Samarone (médico sanitarista)