A cidade de Divina Pastora se estende ao longo das primeiras “BRs” brasileiras, a cortar Sergipe, aqui fundidas numa só: a Salvador-Olinda, ou Estrada da Boiadas.A estátua de Nossa Senhora Divina Pastora, bem no meio dela |
Da última vez que andei pela minúscula, bela e aconchegante, cidade de Divina Pastora, minha mente de curioso pela História, mais uma vez viajou.
Antes de lá chegar, passei pelo emblemático povoado do Bomfim. Cada dia maior. Se brincar, vai passar em tamanho a sede do município: a própria Divina Pastora.
Fundada sobre uma colina, conforme o padrão das cidades ou cidadelas de até o advento dos aviões de guerra, a cidade de Divina Pastora, hoje, não tem para onde crescer. Já seu povoado Bomfim, numa pequena planície, tem área para se espraiar. E sua maior proximidade da Grande Aracaju está lhe ajudando nisso.
O que me faz viajar na memória, sobre Divina Pastora, é o fato do traçado da sua principal rua ser justo o curso da quatrocentona estrada real Salvador-Olinda, certamente num dos trechos mais movimentados, já que fusão entre as duas: a do sertão, ou Caminho do Sertão, por Itabaiana e Lagarto; e a do mar, ou Caminho do Mar, por São Cristóvão e Santa Luzia do Itanhi.
As duas estradas se fundiam justo no povoado Bomfim, identificado no mapa holandês, de 1646 como um curral (fazenda); se dissociando na hoje cidade de Japoatã. Uma retornando ao curso do sertão; outra, voltando ao litoral.
Cada vez que pela cidade eu passo, eu dispo-me da visão de casas, ruas e até da magnífica igreja matriz, para ver, mentalmente, as incessantes boiadas que foram enviadas por quase um século para Pernambuco, e que, mesmo depois do fim desse mercado, começou a fazer outro trajeto, com leves alterações, para o então nascente mercado de Propriá.
Felisbelo Freire foi tácito: “Antes de ser lavrador, Sergipe foi pastor”. Indiscutível.
E como essa foi a primeira estrada – em fusão das duas – a transportar as boiadas, que segundo Moreno, em 1612, abasteciam os engenhos de Pernambuco e a cidade da Bahia, Salvador, cabe se perguntar se a denominação “Nossa Senhora Divina Pastora”, foi intencional, ou não?
E a aposição de sua estátua, justo nesse local, há poucos anos, também estaria ligada a essa profunda simbologia?