COLHEITAs FARTAs e contradições também [I] por Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo

Redação, 10 de Maio , 2024 - Atualizado em 10 de Maio, 2024

No Brasil, diferente de outros países, não existe apenas uma colheita anual no processo produtivo agrícola. Predominam duas e em algumas contingências até três colheitas anuais. Dádiva da natureza, para um ímpar País, produtor agrícola globalizado. Nos últimos anos, fartas colheitas têm sido comemoradas pelos produtores brasileiros, mas, no presente, o momento é de apreensão. Isso não significa que a agricultura brasileira está em crise, mas precaução frente aos lucros extraordinários de safras passadas.

O Brasil assume destaque como produtor e exportador de comida para o mundo. Estima-se que mais de uma centena de países e um bilhão de pessoas consomem o alimento brasileiro. Terras agricultáveis, clima tropical, água abundante, pesquisa, assistência técnica e créditos públicos subsidiados, colocam o País, como relevante ator na economia mundial e no combate a fome. 

Na década de sessenta, o espectro da fome pairava no mundo. A teoria de Thomas Malthus, no final do século XVI, de um lado, profetizava, o crescimento aritmético dos meios de subsistência, enquanto a população cresceria em progressão geométrica. Isso significava que a melhoria da humanidade seria impossível, sem os limites rígidos da reprodução humana. Do outro lado, a ciência e a tecnologia, fomentariam a produção de comida e evitariam a ruína da humanidade. 

Uma das profecias, foi chamada de Revolução Verde. Técnicas agrícolas organizadas a partir do conhecimento produzido no final do século XIX. O portfólio incluía, nutrição de plantas, melhoramento genético de espécies, pesticidas, equipamentos mecânicos e práticas agrícolas, que de forma linear alavancaram a produção e a produtividade agrícolas. Atributos identificados como soluções para o espectro da fome e, consequentemente, o direcionamento da produção agrícola por fatores de produção intensivos em capital. Modelo adotado pelo Brasil no período do governo militar, sob o nome de “milagre econômico”: concentrar primeiro e distribuir posteriormente. Receita que revelou múltiplas contradições, como a persistente fome, externalidades ambientais e a abismal desigualdade social.

A receita da Revolução Verde, transformada em políticas públicas pelo governo brasileiro, foi acolhida pelo empreendedorismo dos produtores rurais. Elas foram financiadas pelo capital internacional e adotadas pelos sistemas de produção agrícolas, incluindo tecnologia, crédito, assistência técnica, processamento e comercialização subsidiados. No lapso temporal de meio século, o Brasil saiu de importador para exportador de commodities agrícolas. Mas, não foi suficiente nem para erradicar a fome, nem para promover o desenvolvimento nacional.

Evidências demostram o crescimento da produção agrícola brasileira, em quatro commodities, soja, milho, algodão e carnes, na lógica da Revolução Verde. Outro destaque é o Produto Interno Bruto – PIB, situando o Brasil como a nona economia do planeta. Realidade prenhe de contradições, algumas persistentes, como a fome, a insegurança alimentar, a mudança climática e as áreas degradáveis. Evidências que chamam por uma urgente e nova estratégia produtiva. 

Ao final, a ciência tem contribuído para eliminar a tragédia malthusina, o que não tem acontecido no bem-estar-social. As contradições continuam. 

Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Costa Macêdo, são engenheiros agrônomos.


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