Pesquisa desenvolve combustíveis de aviação a partir de resíduos do coco e da cana

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Dissertação de mestrado usou técnica da gaseificação da biomassa para a produção de gás de síntese usado na produção de biocombustíveis; pesquisa pode aproveitar materiais com grande produção em Sergipe e no Nordeste

O bagaço da cana-de-açúcar e a casca do coco podem ser uma fonte alternativa para a produção de bioquerosene utilizado no abastecimento de aeronaves. Este é o tema de uma pesquisa realizada pelo pesquisador Jônatas Levi Campos Barbosa, que elaborou uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos da Universidade Tiradentes (PEP/Unit). 

O estudo, orientado pelo professor-doutor Cláudio Dariva e realizado em conjunto com o Núcleo de Estudos de Sistemas Coloidais (Nuesc), do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), concentra-se na gaseificação de biomassa para a produção de gás de síntese e possível uso deste gás para produzir biocombustíveis avançados, como fuel gas, bionafta (biogasolina), bioquerosene e biodiesel. As linhas de pesquisa centram-se na produção sustentável de energia com uso e aprimoramento dos recursos regionais. 

De acordo com Jônatas, existem diversos métodos de transformação dos materiais em insumos que posteriormente são sintetizados em combustíveis: a gaseificação (transforma tudo em biogás), a liquefação (em um tipo de líquido/bio-óleo) e a fermentação (fermenta a biomassa e transforma em álcool que depois será sintetizado). “Quaisquer biomassa podem ser usadas nessas rotas, desde bagaço de cana, casca de coco, lixo urbano, algas, etc. Mas dependendo da biomassa, uma rota é mais eficiente do que outra”, explica ele, informando que escolheu a casca de coco e o bagaço de cana por serem materiais com alta influência regional e nacional, com grande produção em Sergipe e no Nordeste. 

O estudo já teve um relatório técnico aprovado pela companhia petrolífera Galp, de Portugal, que encomendou pesquisas de desenvolvimento de biocombustíveis junto à Unit e ao ITP. E também deu origem a trabalhos inscritos e apresentados em quatro congressos nacionais e internacionais da área de biocombustíveis e energias renováveis. Um deles foi o 3º Congresso da RBQAv (Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação), que aconteceu em junho deste ano na cidade de Foz do Iguaçu (PR) e contou com a participação de grandes empresas e instituições de pesquisa do setor. Nele, Jônatas e Dariva apresentaram um estudo de preço de nivelamento para o bioquerosene, a bionafta e o biodiesel resultantes da gaseificação do bagaço da cana, no qual foi demonstrado o preço final do quilo de cada biocombustível. 

“Simulamos uma planta em nível industrial com processamento de 125 toneladas de bagaço por hora, durante 330 dias por ano e em 20 anos. Foi um estudo muito abrangente e validado por uma empresa industrial do ramo”, disse Jônatas, cujo trabalho abriu interesse e contatos com pesquisadores de instituições como o Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBr), ligado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM); e as universidades federais de Goiás (UFG), Paraná (UFPR) e Rio Grande do Norte (UFRN). 

Possibilidades

A dissertação de Jônatas no PEP/Unit será defendida no próximo dia 31 de julho, mas os estudos terão continuidade em uma futura tese de doutorado, que terá foco na Análise de Ciclo de Vida (ACV), uma técnica que estuda os aspectos ambientais e os impactos potenciais ao longo da vida de um produto ou serviço, bem como na integração de processos termoquímicos e biológicos aplicados à produção de biocombustíveis avançados. 

A produção a partir do bagaço de cana e da casca de coco é apenas uma das muitas possibilidades que estão abertas para que o bioquerosene de biomassa seja aproveitado no mercado. Isso porque o Programa Nacional do Bioquerosene, criado pela Lei 14.248/2021, estabelece que ele seja adotado como parte do combustível utilizado em todos os voos em operação no Brasil, inclusive os comerciais.

“O mundo inteiro está indo neste caminho. Simplesmente, hoje todos querem bioquerosene. Até o setor marítimo. Diferente do biodiesel, que sofre com a baixa da frota de carros, caminhões, pick-ups, o uso do bioquerosene só aumentará, pois a oferta de voos só aumenta em todo o mundo. E o comércio marítimo também”, prevê o pesquisador, acrescentando que outras grandes empresas e universidades do Brasil e do mundo desenvolvem projetos milionários de produção de bioquerosene de aviação. “Este e outros estudos perfazem tudo que um investidor precisa para tomar a decisão de criar ou não uma indústria no setor. Isso modela políticas públicas”, concluiu.

Fonte: Asscom Unit

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