HISTÓRIAS DO CAPITÃO

Minuta de emenda que não vingou

Marcio Monteiro, 07 de Abril, 2024 - Atualizado em 07 de Abril, 2024

 

 O jornalista e acadêmico Carlos Castelo Branco, carinhosamente conhecido como Castelinho no meio jornalístico, manteve a célebre Coluna do Castello no Jornal do Brasil (JB), um espaço que se consolidou como o mais duradouro na imprensa nacional. Sua habilidade em obter informações exclusivas e sua capacidade de elaborar análises e projeções políticas embasadas em fontes seguras, garantiram-lhe uma credibilidade inabalável. Por isso, é importante destacar a importância da Coluna, especialmente para aqueles que não tiveram a oportunidade de acompanhar seus textos. Em 1993, último ano da coluna, na edição do dia 04 de abril, foi publicada uma matéria assinada pelo jornalista Marcelo Pontes, que assumira temporariamente o lugar de Castelinho, que na ocasião enfrentava seus últimos embates contra uma grave enfermidade.

O artigo relata eventos relacionados a reuniões promovidas por um grupo de deputados que, na época, buscavam maneiras de alterar a Constituição para retirar do Congresso Nacional o poder de escolher o substituto do presidente e vice-presidente da República em caso de vacância. Esse grupo, liderado pelo então deputado e capitão do Exército, Jair Bolsonaro, defendia o fechamento do Congresso, considerando-o uma “instituição inútil”.

Conforme descrito pelo colunista, os deputados envolvidos na articulação golpista planejavam criar um cenário no qual o governo de Itamar Franco se tornaria politicamente insustentável. Com um Congresso fragilizado pela baixa popularidade, o sucessor seria eleito de forma indireta, conforme previsto na emenda em preparação, uma espécie de minuta em modo de espera. No entanto, havia dúvida se as regras acordadas seriam seguidas, mesmo em se tratando de uma eleição indireta.

Esse registro histórico reforça a disposição golpista que já se manifestava nas atitudes do então Capitão Bolsonaro desde o início de seu mandato na Câmara Federal. Isso contribui para a compreensão de que os eventos ocorridos em 8 de janeiro de 2023 guardam semelhança com as articulações golpistas de 1993, com a diferença de que na primeira vez não houve qualquer mobilização popular. José Sarney, nome preferido pelos militares para assumir a presidência, ao ser consultado sobre a proposta da bancada golpista, enfatizou que a falta de uma grande liderança militar inviabilizava qualquer tentativa de golpe. Sarney preferiu citar Pedro Aleixo, que afirmava que "atrás de um militar sempre existe um civil empurrando", referindo-se à Proclamação da República e ao golpe de 1964.

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