POR DENTRO DO AXÉ
POR DENTRO DO AXÉ
Por Carlos Braz
Na contemporaneidade os conflitos resultantes da intolerância religiosa são uma realidade incontestável em contextos globais e regionais. Somos um país reconhecido por sua miscigenação étnica, onde o negro africano, o índio nativo e o colonizador europeu formataram o mosaico da nossa cultura popular.
Contudo, tal fato não foi capaz de assegurar as minorias étnicas seu lugar de destaque na história da construção da nação verde e amarela. Os quase três séculos de escravidão proporcionaram a sedimentação de varias formas de discriminação social apoiada em estereótipos.
No âmbito religioso, apenas o cristianismo desenvolveu-se pelo fato de ser a crença oficial do grupo social dominante. Assim sendo, as práticas não católicas e manifestações religiosas consideradas de culturas inferiores, caso das religiões de matriz africana e cultos indígenas, foram relegadas à marginalidade, em um processo alimentado historicamente, pelo arbítrio, desconhecimento e mistificação, que as associou com práticas maléficas e contrárias à moral e aos bons costumes de então.
Todavia, mesmo diante de um cenário adverso, a resistência religiosa proporcionou a sobrevivência desses cultos , mesmo com a continuidade das práticas e comportamentos sociais discriminatórios que persistem, em um momento em que a diversidade cultural é plenamente reconhecida e cada vez mais aceita em um mundo civilizado e conectado.
O Estado brasileiro é laico, norma constitucional que ainda não foi totalmente assimilada por nichos sociais que insistem nas narrativas de preconceito, perseguição agressões morais e físicas aos adeptos do candomblé e suas variações.
Diante dessa realidade faz-se necessária uma ressignificação do olhar sobre a cultura afrodescendente como um todo, especialmente em seu aspecto mais controvertido, o candomblé, um sistema religioso singular, uma forma de relação expressiva e unilateral com o mundo sobrenatural, que como qualquer outra religião iniciática prover a circunstância em que o crente poderá, satisfazendo suas emoções e suas necessidades existenciais, situar-se plenamente um grupo socialmente aceito e reconhecido.
Faz-se necessário um amplo debate a respeito do significado do conceito de diversidade cultural e da convivência com o diferente, tema de grande importância no mundo globalizado em que vivemos. Tal temática, já presente nas escolas desde 2003 com a edição da lei federel10.639, que torna obrigatória nos currículos escolares o estudo da cultura africana pode estar presente nos museus e outras instituições que tratem com patrimônio e a memória social de diferentes povos e culturas. A casa de santo Axé Ylê Obá Abaça Odé Bamirê, fundada por José Augusto dos Santos, mais conhecido como Zé D’Obacoussou constituiu-se uma referência religiosa para um numeroso grupo social: a família de santo e seus agregados. É é um templo legítimo, lugar de culto à natureza e seus deuses, bem como de reconhecimento étnico e cidadania não apenas para cidadãos afrodescendentes.
Lá estive algumas vezes com a finalidade de construir um projeto expográfico que possibilitasse um melhor entendimento ao público em geral sobre o conceito de diversidade cultural e da convivência com o diferente.
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