RESULTADOS DA COP 26 por Clayton Campagnolla e Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 10 de Dezembro, 2021 - Atualizado em 10 de Dezembro, 2021


Não são frequentes as conferências abertas ao conjunto das nações do planeta. O trivial são as seletivas, a exemplo do G7, G20 e os apartados blocos econômicos da União Europeia e doenfraquecido Mercosul. A problemática ambiental, tem sido uma exceção no multilateralismo. Impossível a discriminação de uma atmosfera exclusiva para os países mais ricos do mundoglobalizado.

Nessas contingências, realça a importância da COP 26 - Conferência entre as Partes, da Organização das Nações Unidas - ONU para asMudanças Climáticas, realizada em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro. Continuidade da COP 21, realizada em Paris em 2015, quando 195 países e a União Europeia se comprometeram “a deter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC, e ajudar economicamente os países mais vulneráveis ao aquecimento global”.

​A histórica Glasgow registra nos anais da universidade que leva o seu nome, a memória de Adam Smith, professor e autor da clássica obra “A Riqueza das Nações” de 1776. Inédita lavra da economia capitalista. Não é uma obra qualquer, mas os atualizados conceitos da “mão invisível”, do “mercado livre” e da “oferta e procura”. Para Smith, o “crescimento econômico e o progresso de uma Nação seriam alcançados numa sociedade livre, onde as pessoas agem conforme seus interesses pessoais”.  

A história não se repetiu, mas também não existe o acaso. Na COP 26 diferente de outras, dominaram as ansiedades, expectativas e memórias da Covid-19. Numa humanidade segmentada entre Norte e Sul e ricos e pobres, os resultados em sua maioria, são retóricas diplomáticas e afastados das necessidades imediatas das criaturas terrenas. As atividades humanas já causaram cerca de 1,1 °C de aquecimento do planeta em relação aos níveis pré-industriais. Os países do G20 concentram 80% da economia mundial e contribuem com 78% das emissões mundiais de gases de efeito estufa - GEE, particularmente a China, Estados Unidos, Índia e União Europeia. Os resultados além dasprotocolares ‘Declarações’ são incapazes de reverter no curto e médio prazos as agressões à natureza, em especial os efeitos do aquecimento global.

Como principais resultados da COP 26, destacam-se o pacto climático de Glasgow (reafimaa meta de aquecimento de 1,5ºC até o final do século); o compromisso global do metano (reduzir as emissões de metano ao menos em 30% em relação aos níveis de 2020, até 2030); a redução gradual no uso de carvão mineral e os subsídios aos combustíveis fósseis ineficientes; o Fundo Verde do Clima de 100 bilhões de dólares anuais, para osprogramas de mudanças climáticas de países carentes; a definição de regras do mercado global de carbono previsto no Acordo de Paris e ao final a “Declaração dos Líderes de Glasgow” sobre florestas e uso da terra (deter e reverter a perda florestal e a degradação da terra até 2030, promovero desenvolvimento sustentável e a transformação rural inclusiva; implementar políticas e programas agrícolas para a agricultura sustentável; promover a segurança alimentar e beneficiar o meio ambiente; reafirmar os compromissos financeiros internacionais e aumentar o investimento público e privado nas causas ambientais).

O Brasil, antes um protagonista relevante nas Conferências do meio ambiente como o clima, biodiversidade, floresta, ribeirinhos e extrativistas tropicais, para alguns qualificados observadores da COP 26, esteve “de joelhos”. Foi o único país com dois pavilhões, um das representações da sociedade civil e outro oficial do governo federal. O enfraquecimento da política nacional para o meio ambiente e o desmatamento crescente, ilegal e criminoso da floresta Amazônica brasileira são evidências da desconfiança nas ‘Declarações’ e compromissos da diplomacia brasileira.

No plano das retóricas, próprio das relações internacionais, aparentam promissoras as decisões da COP 26 e as mudanças climáticas. Aoperabilidade no mundo real, em oposição ao conforto dos palácios imperiais do Reino Unido e doequilíbrio hermético da “oferta e procura” dirá no tempo oportuno os efetivos resultados de forma equânime para uma humanidade desigual e egoísta.

Clayton Campagnolla e Manoel Moacir CostaMacêdo, são engenheiros agrônomos.

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