A CIÊNCIA EM TRANSE por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 23 de Setembro, 2022 - Atualizado em 23 de Setembro, 2022

 


Na atual quadra social, aflorou o desprezo à liberdade, louvores ao tradicionalismo e à intolerância. Crise iluminista. A ciência questionada. Retorno à servidão medieval.

Em boa hora surgiu em forma de livro e filme “Predestinado: Arigó e o espírito do Dr. Fritz”. A história de Zé Arigó, o José Pedro de Freitas, mineiro de
Congonhas. Uma dupla personalidade. Na vida material, minerador, católico, casado e pai de uma prole de sete filhos. Na vida espiritual, um corpo à serviço do espírito de Dr. Fritz, médico alemão, nascido no século XIX que ajudou a salvar vidas na 1a Guerra Mundial. Registros desse fenômeno nos anos cinquenta e sessenta, lapso temporal de vinte e um anos e dois milhões de atendidos.

 

Paradigmas em conflitos, embora em convivência, como prescreve a teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn. A “ciência normal” sendo questionada em seus cânones positivistas, pelo esperado “paradigma da pós- materialidade”. Opostos em meios, mas acordados em fins. “Crises e anomalias” dirão os ritos e as rotas. Diversidade e contradições são comuns na evolução da
ciência.

O civilizado é o acolhimento livre de preconceitos. O paradigma vigente,
está positivado nos sentidos sensoriais das provas, repetições, testes e mensurações na perspectiva da materialidade. O paradigma em construção, possível substituto do dominante, incorpora o quociente espiritual, na direção da pós-materialidade. Revolução que carece de tempo e reconhecimento em sua operabilidade. O tempo não é conhecido, mas o necessário para a incorporação no contexto da vida, ultrapassa gerações e escapa às mensurações tradicionais.


As obras divulgadas trazem lições que merecem reflexões com isenções,
como prescreve os princípios estruturais da ciência: “universalismo, comunalismo, desinteresse e ceticismo”. Não estão descartados as inexoráveis influências do paradigma vigente que dificultam à ascensão do novo paradigma. A religiosidade dominante, o corporativismo das categorias profissionais, a
legislação vigente e os interesses econômicos e políticos, alguns sutis, outros às claras, como freios e resistências às mudanças.

 

O ator que interpretou o personagem principal, Dalton Melo, antes um ateu convicto, após a exposição aos fatos, passou a crer nas “curas espirituais de Zé Arigó”. Para ele, mais que a valoração da crença, a mensagem é de “amor e tolerância”. Entre os testemunhos merecem destaque:
“fui curada por Zé Arigó
com 3 anos de idade, após ter sido desenganada dentro do HC de SP. Hoje
tenho 56 anos. Agradeço a Zé Arigó e meus pais que me levaram até ele, mesmo
sem acreditar”. Um determinado médico ao examinar um paciente antes e após
a intervenção de Zé Arigó: na ciência normal não existe explicação para a cura
do paciente atendido pelo médium.
Não é simples e nem fácil romper os ditames do paradigma dominante.


Os contrários sofrem contestações e reações. Normalmente, as minorias lideram as transformações, adiante, as maiorias acatam ou rejeitam. Zé Arigó foi
perseguido, condenado e preso como curandeiro e exercício ilegal da medicina.
Jamais a sua prática de cura, em maioria de moléstias incuráveis, acessível a
todos que o procurava, livre de remunerações e honrarias, causou danos de qualquer natureza. Atenuante criminal. O pároco de Congonhas no leito da
morte, rogou a Zé Arigó como pedido de perdão: ao invés de você ser
condenado, deveria ser estudado. Estava em curso uma pesquisa na NASA -
Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, agência dos Estados Unidos
sobre o fenômeno Arigó. No dizer do cientista social Jessé Souza: “a mais
importante instituição do Ocidente, a igreja católica medieval, foi o modelo de
todas as formas de Estado nacional e a forma singular da maneira como
avaliamos o mundo”.


A “ciência normal” segue os fundamentos padronizados pela hermética comunidade cientifica. As evidências alheias à lógica positivista requer tempo para o seu reconhecimento. Os fenômenos paranormais, espirituais e mediúnicos não são ocorrências falsas, mas estão amparados por inteligências
opostas. Eles não são dogmas e nem expressões de fé irracional, apenas carecem de uma metodologia pós-material.


Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado

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