AGRICULTURA BRASILEIRA NA PÓS-ELEIÇÃO Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 11 de Novembro, 2022 - Atualizado em 11 de Novembro, 2022

 


Na democracia, as eleições livres e diretas legitimam os vencedores. Os representados pelo voto popular controlam o Estado e as políticas deintervenção na sociedade. O aparato estatal abriga os poderes legislativo, executivo e judiciário e suasestruturas organizacionais, num arranjo harmônico e independente entre eles.

O Estado é a mais robusta das organizaçõessociais. Através dele os serviços públicos chegam às pessoas, criaturas e entes federativos na forma de saúde, educação, segurança, emprego, renda e agricultura, entre outros.  Destaque para a produçãoagropecuária brasileira. Diferente de outros setores da economia, ela carrega um valor moral: a oferta de alimento. A comida é a energia da vida. Valor que ultrapassa os negócios para assentar na justiçasocial, na compaixão e no humanismo. Sem comida, tem fome, conflito e morte.

Os vencedores na recente eleição, firmaram o compromisso de alimentar os brasileiros e brasileiras. A premissa é a segurança alimentar dos naturais na mesma prioridade que as exportaçõesde commodities agrícolas. Os desafios estão postos e não são simples. O mundo globalizado enquadra as nações como sujeitos e coadjuvantes. Tradicional classificação como primeiro, segundo e terceiromundos. Os poucos ricos e os muitos pobres. Ou ainda os desenvolvidos e os emergentes. O Brasil está no terceiro mundo, não é pobre, mas é desigual.

Na lógica da economia globalizada, predomina o lucro, a ganância e acumulação. A comida é uma mercadoria vendida no balcão para quem pode comprar e pagar. A pandemia da Covid-19, não parou a produção agropecuária brasileira, também não distribuiu. As exportações cresceram, aumentaram os lucros, a eficiência produtiva e a riqueza em poucas mãos. No plano nacional, retornou a fome e cresceu a desigualdade social. A piedade não amoleceu o “coração do mundo e a pátria do evangelho”.

Os cenários para a produção agropecuária brasileira na pós-eleições não são animadores nos planos interno e externo. A pauta brasileira de commodities agrícolas está restrita em quatro produtos: soja, milho, algodão e carnes. Crescimento econômico entre 1,5 e 2,0 % ao ano. Crise fiscal persistente nos últimos anos. Logística deficiente. Rigidez orçamentária e fracasso no teto de gastos. Carestia. Entraves internos que limitam o crescimento brasileiro e a produção agrícola.

Externamente as dificuldades são enormes e afetam a economia brasileira. Os mercados importadores estão restringindo as compras e impondo barreiras tarifárias e sanitárias aos produtos agrícolas brasileiros. Risco geopolítico. Ocidente e oriente em conflito. Europa em crise. Globalização em ruínas. Concerto das nações em desarmonia. Multilateralismo questionado. Guerra na Ucrânia. Ameaça de invasão na Coréia do Sul.Inflação americana em alta. Cadeia mundial de suprimentos concentrada na China. Mundo menos eficiente, com juros altos e crescimento em baixa.

Os cenários de ameaças, casos referendadosna realidade, restringirão a produção agropecuária brasileira dependente das exportações de limitadascommodities agrícolas e de insumos importados.Ainda é tempo, para no dia seguinte às eleições, que se promovam políticas públicas para produzir com sustentabilidade, alimentar o povo, empregar a gente e comercializar os créditos de carbono dosbiomas e estratégica biodiversidade. No novo paradigma que estar por vir, quem produz comida, produz paz.

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado.

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