BRASIL VERDE por Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 09 de Dezembro, 2022 - Atualizado em 09 de Dezembro, 2022

 


As questões sanitárias na pós-pandemia alteraram as estratégias comerciais na globalização. Elas ultrapassaram as contingências especificas do mercado financeiro, para causar instabilidade econômica nas economias exportadoras de commodities. O Brasil não está imune a essa realidade. Cenários de ameaças, indicam que o País poderá sofrer uma recessão de grande expressão, maior que outras anteriores.

Os juros e a formação bruta de capital, estão entre os indicadores recessivos. Uma conjuntura dedificuldades atingirá os anos seguintes. A recuperação exigirá, além de investimentos para retomada econômica, mas uma revisão nos modelos de negócios e o fortalecimento de setores com alcance social. No mundo desenvolvido, a problemática ambiental se constitui no mote da vez. Destaque para o ESG, sigla em inglês que significa meio ambiente, sociabilidade e governança. Exigências na trajetória da produção ao consumo. Referência em curso na modelagem de ativosnegociados no mercado de capitais.

A Comissão Europeia, está avaliandoestabelecer um imposto sobre o carbono das importações, o que poderá redefinir a competitividade global. Não é o acaso e nem desejo de ambientalistas que a economia global priorizará oinvestimento verde, a pandemia apenas acelerou uma onda identificada pelo Clube de Roma na década de setenta. Mas, as exigências de um consumidor esclarecido e exigente em bens saudáveis e livres de agressões a natureza e a dignidade humana. As ondas de inovação, como a energia a vapor e as redes digitais, trouxeram prosperidade para as nações desenvolvidas, e pouparam mão-de-obra, mas, desprezaram as externalidades ambientais.

O tempo do ganho linear de produtividade dos fatores, como a produtividade da mão de obra, está em esgotamento. A atenção se deslocou para os recursos naturais e a crescente inquietação quanto acapacidade de consumo dos bens terrenos. A Terra não suporta um consumismo exagerado dos seus recursos naturais. Uma nova ordem econômica, está sendo posta, dessa feita calcada nodesenvolvimento sustentável com ênfase nos recursos naturais e na prosperidade de um futuro produtivo, socialmente justo e ambientalmente cuidadoso.

Para o Observatório da Federação Brasileira dos Bancos – FEBRABAN, os países menos desenvolvidos na África e na Ásia, além da China,são os maiores receptores do financiamento verde. O Brasil, apesar de 74% dos brasileiros afirmares que tem “muito ou algum interesse no meio ambiente” e 78% mostram que estão “pouco ou nada satisfeitos com a preservação ambiental”, a estratégia de desenvolvimento nacional não está em linha com essas tendências da sociedade brasileira.Quando os brasileiros são indagados sobre a “sustentabilidade”, os resultados indicam que “42% acolhem o bem-estar, saúde e renda das comunidades como as suas maiores preocupações”e 38% acredita, “nas questões ambientais, como poluição, aquecimento global, desmatamento, lixo e no uso da água, como os recursos relevantes para a vida.

Uma contradição a ser acolhida pelo Estado brasileiro em suas políticas públicas. O Brasil possui um grande ativo ambiental e a sociedade apoia o desenvolvimento verde. É verdade que os investimentos verdes vêm aumentando no país, mas, em ritmo insuficiente. Em 2012, menos de 18% do crédito às pessoas jurídicas era direcionado às atividades enquadradas na economia verde. Em 2020, esta participação subiu para 22%. Em relação às atividades com maior exposição ao risco ambiental, a participação caiu de 50%, em 2012, para 44% em 2020.

A solução está posta. Investimentos em infraestrutura verde em escala global. Serviços de abastecimento de água e saneamento, assim como mudanças no suprimento de energia, reciclagem e eficiência. O Brasil está muito bem posicionado na geração de energia em fontes alternativas como a biomassa, a fotovoltaica, a eólica e a hidroelétrica. Assim sendo, possuidor de energia limpa, gentecomprometida com o meio ambiente, verde e muita fé, falta apenas do Estado brasileiro abraçar o verdeem suas políticas públicas, independente das outrascores que reluzem em sua bandeira.

(Adaptado do artigo “Por um Brasil mais verde” de Pedro Abel Vieira, Antônio Marcio Buainain, Elísio Contini e Roberta Dalla Porta Grundling).

 

Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Costa Macêdo, são engenheiros agrônomos

O que você está buscando?