19 DE ABRIL DIA DO ÍNDIO

Jerônimo Nunes Peixoto, 19 de Abril, 2024 - Atualizado em 19 de Abril, 2024

19 DE ABRIL DIA DO ÍNDIO

Logo cedo, a meninada passa vestida de índios, para uma apresentação na escola. Lá lhes ensinam que o índio deixou comidas típicas, remédios do mato, ritmos e sabores que ainda hoje fazem a diferença. A criançada aprende que ele não é “civilizado”, como o “homem branco”. Passa-se a ideia de um ser inferior, porque não tem os mesmos costumes que nós possuímos. No dia seguinte, tudo volta ao normal. Somente, no próximo ano, a figura indígena será lembrada.

19 de abril seria um dia de comemoração dos povos originários, uma data para se celebrar a vida, as conquistas e os direitos de todas as nações autóctones! Seria uma comemoração da saúde, da terra, da floresta, das nascentes preservadas, da água límpida, o ar puro, o respeito à diversidade, à cultura de cada povo. Não! É um dia para se reivindicar um lugar ao sol àqueles que eram os únicos proprietários originários da Terra de Santa Cruz.

Salta aos olhos o termo que se aprendeu na escola: “SELVAGEM”! Uma designação de quem habita a selva, de quem é rude, de quem não tem tecnologia, nem interesse pelo trabalho... Uma simples volta ao mundo, com o olhar mais atento, ajuda a identificar as autênticas selvagerias, quando se destroem países, povos, com bombardeios, com mísseis de precisão, para se atender aos ditames da indústria bélica, para fortalecer os lucros de um segmento do mercado, para mostrar poderio e senhorio sobre os demais povos.

Os chamados povos indígenas não invadiram terras, não destruíram a floresta, não poluíram os rios e nascentes, não tingiram de mercúrio os igarapés, os córregos, nem envenenaram povos inteiros. Também não exploram a mineração de forma clandestina, nem auxiliam no tráfico de entorpecentes, de armas e de madeiras ilegais. E por que são considerados selvagens? A quem cabe, por direito, tão infeliz apodo?

O continente africano tem inúmeros países insertos na miséria, na guerra, na disputa por diamantes. O Oriente serve-se de ideologias religiosas, para camuflar seu incontido desejo de domínio sobre o petróleo e sobre as riquezas naturais. Nações se destroem pelas constantes e terríveis guerras. Deus, na verdade, passa bem longe disso tudo. Ele não é selvagem, nem legitima qualquer espécie de exploração.

No nosso imenso e querido Brasil, há milícias, grupos a serviço do tráfico de armas, de drogas, de bicheiros que, por sua vez, servem a camadas de “gente grande”, dando-lhe sustentação financeira e outras facilitações, conforme noticiado à exaustão pela mídia. A verba, que não chega à creche, à unidade básica de saúde, à escola e ao hospital, transforma-se em arma letal. E, por vezes, quem pratica tais desvios se considera autenticamente cristãos, por serem contrários ao aborto, por exemplo, por defenderem a família...

Ora, quem é a favor da vida, defende-a e a protege, não somente no ventre, mas em todas as suas instâncias, até o último suspiro. Quem é a favor da vida não pode ser a favor de justiça com as próprias mãos. Quem é a favor da vida tem de guardar intenso respeito pela Natureza, pela água, pelo ar, pela vida da fauna e da flora. Quem defende a vida não impõe aos Yanomami a matança pela fome, pela poluição das águas, pela morte dos peixes, tudo em nome do lucro.

Entre os povos tidos como civilizados, existem fome, exclusão social, corrupção, desvios de verbas, gente em situação de rua, nos barracos de papelão, sem amparo da chuva, do sol e do frio... gente que poderia ser gente, mas a gente a transforma em não gente. E isso, por pura ganância. Entre os povos originários, existe partilha de vida, de sentimentos e de alimentos.

“Todo dia era dia de índio, agora ele só tem 19 de abril”, cantou o poeta. Que a sociedade se acorde para o que, de fato, constrói a dignidade das pessoas, faz crescer o respeito entre todos, nutre a tolerância e a solidariedade. Tudo isso são valores que os povos originários nos ensinam. Valorizar o índio é muito mais do que maquilar sua realidade com uma comemoração que se repete a cada ano, sem grandes novidades. Valorizar os povos indígenas é resgatar o respeito por cada uma das nações autóctones. Quem sabe um dia possa haver diariamente o dia do índio!

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