DE VOLTA AO MISERÊ?

José de Almeida Bispo, 27 de Março, 2023 - Atualizado em 27 de Março, 2023

O modus operandi é clássico: sempre que uma gangue quer atacar um lugar, primeiro faz o estudo da área; onde está o que realmente importa roubar, tomando-o de assalto. Depois, divide o bando em três partes: a turma da baderna, que vai na frente, dando tiros a esmo e até acertando alguns azarados; em seguida a turma de apoio, contra qualquer reação e resistência, e em terceiro os “técnicos”, mapa à mão, e objetivo claro: ir onde está o tesouro. Enquanto os baderneiros, lá fora, gastam os últimos tiros e destroem coisa sem importância, para desviar a atenção dos horrorizados e impotentes cidadãos. Sucesso total.
Na última década foi isso aplicado, não a um vilarejo de quinhentas ou no máximo mil pessoas; mas à então sexta economia do mundo – Brasil – que então desabou de volta ao décimo quarto lugar mundial, enquanto os ricos ficaram podres de ricos, concentrando quase todo o pequeno crescimento pra si. “Eu sou menos miserável que você”, é a lógica.
Depois da quebra institucional de 2016 desembestou tudo. Sob as mais esdrúxulas – e até desonestas – justificativas. E a maquininha de marcar preços voltou aos tempos de triste memória da inflação dos anos 80.
Tudo é motivo para justificar aumento de preços: a China tá comendo carne; aumento da gasolina, a pandemia e agora a guerra na Ucrânia cobre toda e qualquer desonestidade.
Até a década de 60, havia famílias que de tão números de filhos e carente de recursos tinha que usar um ovo cozido, cortado em cruz, com cada quarto dado para um determinado filho.
Nos anos 70, melhorou; mas nem tanto: ainda era um para dois; nos 80 a ração continuou a crescer. Lentamente. Aí já era um por dia e por filho.
Resumindo, na década de 10, passada, quase todo mundo podia ostentar. Já não era privativo de ricos ter dois e até quatro ovos por pessoa em cada refeição.
O assédio do “carro do ovo”, todas as manhãs, com uma cartela de trinta ovos por dez reais virou meme. Menos de três reais e cinquenta centavos por dúzia.
Em 6 de outubro de 2016, o bolo de meu aniversário próximo foi preparado com cartelas de ovos de uma dúzia, proveniente de um supermercado aqui de Itabaiana... um desperdício: R$ 4,69. No carro do ovo sairia por R$ 3,33.
Atualmente, no “carro do ovo” – quando passa – são 18 reais; 80% de aumento. E nos supermercados, geralmente um pouquinho mais.
Se brincar, retornaremos aos tempos do ovo repartido em quatro pedaços com uma linha de cozer.

Meme de 2016, com o então recém empossado Michel Temer.

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