ESTATÍSTICA INFALÍVEL: FIM DA ESPERANÇA?

José de Almeida Bispo, 04 de Junho, 2023

Os gregos diziam a Caixa de Pandora não deveria ser aberta, sob risco de se perder a esperança, única coisa restada nela.
A estatística é terrível: ninguém nada se esconde dela. De algum modo, em algum tempo, os bens ou males feitos vão aparecer.
Sergipe quase acabou em dois momentos: a primeira vez, em 1656, quando o lawfare campeou à solta, quebrando o iniciante vigor da pecuária, com prisões e confiscos arbitrários; a segundas, em 1855, por ocasião da primeira e grande epidemia de cólera; hiper subnotificada, e cujos números terríveis aparecem depois nos raros censos - feito pelas paróquias, já que os párocos tinham todo o controle social - do pós-epidemia em comparação com os anteriores a 1855.
Nos tempos modernos, depois que o IBGE pôs alguma ordem, em 1940 (até nisso a República Velha foi uma desgraça) temos tido alguns momentos de crescimento da população sergipana, no mínimo, assimétrico; quando não quase todo ele em queda geral, como no Censo que ora está para fechar.
Desde 1960, o crescimento municipal superaquecido ficava com Aracaju; que concentrou mais da metade da classe média do estado, mesmo só representando um quarto de toda a população dele; e, obviamente sendo a principal atração para todas as classes socioeconômicas. Dessa vez, parece que nem a capital escapou da queda. Como alívio, as outras três cidades da zona metropolitana cresceram o suficiente para minimizar a queda da expectativa da capital.
Dos 75 municípios do estado, apenas Itabaiana e Nossa Senhora da Glória, no interior, cresceram além do crescimento vegetativo, natural, ou seja acima do montante censo anterior mais nascidos no período, descontados os falecimentos, claro. Os outros três foram justos os da zona metropolitana de Aracaju: Barra dos Coqueiros, disparado; Nossa Senhora do Socorro, ainda acentuado e São Cristóvão, em níveis mais moderados.
Nos outros 70 municípios, tivemos Aracaju, puxando a queda com os estratosféricos de 57 mil pessoas a menos; sem diminuir do que tinha em 2010. Como Aracaju, outros 38 municípios que sequer seguraram os que nasceram. Mas ainda cresceram.
Porém o pior foi com os 31 que tiveram menos população em 2022 que em 2010, municípios ricos, como Laranjeiras; ou não pobres como Propriá.
Falta de boas expectativas econômicas é o que tem empurrado os sergipanos, desde 30 anos, pelos menos, quando se começou ter estatísticas confiáveis, para fora do estado, uma razão de dez por cento de todos os nascidos em cada década. Acredita-se que pela lentidão do crescimento vegetativo apurado isso vem de bem antes; no mínimo um século. Mas agora temos a ferramenta como provar isso.
E, só se vai embora de onde nasceu por falta de esperança de que o lugar melhore um dia.
Continuamos com os jogos dos coronéis do açúcar e dos currais do século XIX: de nariz empinado, com raras olhadelas no próprio umbigo; sem projeto de estado, sem pensar o futuro. Sem políticas de Estado que aproveitem o potencial do povo para fazer crescer todo o estado.

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