A GRAVIANA

José de Almeida Bispo, 08 de Setembro, 2023 - Atualizado em 08 de Setembro, 2023

O viajante, extenuado, chegou ao chalé, semicercado de telheiros, como em todas as vivendas menos modestas rurais, no cimo da baixa colina, algumas dezenas de metros da estrada cavalar, já por volta da hora do Ângelus e pediu rancho.
Na correria para ajeitar os animais para a noite, a dona de casa indicou-o ao marido, na lide com suas vacas e bezerros, parte para protege-los de alguma intempérie noturna; parte para garantir que a bezerrada não mamasse antes da hora de tirar a cota da família, antes de liberar os animais para serem animais.
O viajante aproximou-se do dono da casa e perguntou-lhe se podia pernoitar embaixo do seu telheiro vasto, e nele armar a sua rede.
Depois de algumas apresentações e credenciais o dono da casa aquiesceu e o conduziu para a parte do telheiro onde ficaria menos exposto ao frio da noite, porque do lado do sol vespertino, que ainda estava cálido devido ao recente pôr-do-sol.
O viajante lá armou sua rede e se acomodou esperando uma noite de sono tranquila, em segurança, se sentindo acolhido.
Como em época de inverno, em cima um alto e descampado, sem vegetação alta por perto, o dono da casa avisou para tomar cuidado com a graviana que sempre chegava, especialmente por volta da madrugada. Ao notar certa confusão no hóspede, riu, e amenizou, dizendo que há duas ou três semanas que ela não ocorria.
E foram se deitar, já que noite “sem lua”, e, naturalmente sem a modernidade da iluminação elétrica.
Ocorre que o casal hospedeiro também possuía uma bestinha para o serviço doméstico. E, por volta da meia noite o viajante acorda atordoado com um relincho bem próximo a sua cabeça e não pestanejou: deu de garra de espingarda, da qual não se apartava quando em a viagem por aqueles sertões e disparou sobre aquela coisa turva perto de si.
Ao clarear viu o tamanho da besteira, induzida pelo medo e a ignorância, que tinha feito: a pobre bestinha jazia sem vida a poucos metros.
Sem conhecer o termo graviana – vento frio - e nem ter explicação prévia, achou que estaria diante de um animal carnívoro e feroz e atirou.
Como negociou a reparação do prejuízo, isso nunca me foi dito. Mas ficou a lição: não produza dúvidas, desnecessariamente: pode o resultado ser muito danoso.
Essa história de fundo moral me foi contada quando criança; e lembrei dela ao sentir que o frio voltou; especialmente agora pela tarde, e possivelmente para se despedir. Estamos a quinze dias de o sol, nossa estrela vital, retornar para o Sul, onde deve nos trazer muito mais calor pelos próximos sete meses – até abril – quando, em seu ciclo eterno terá retornado para o norte. Der fato, o sol não vira; quem muda de posição é a nossa belíssima bola azul – a Terra – solta no espaço, a girar a 1.630 quilômetros por hora, e a se deslocar a 100 mil por hora no espaço cósmico. Ao redor do Sol. E a gente só sentindo a brisa, quando passa.

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