BAILA VINICIUS

Por Carlos Braz 

Na história das sociedades existem  acontecimentos que, aparentemente insignificantes, são determinantes para a construção de uma nova forma de agir e pensar. Por natureza, o homem está sempre a evoluir no  campo do conhecimento, contudo, sua cultura  alicerçada geração a geração permanece viva influenciando em muitas de suas decisões em determinadas situações.

Assim, fatos que parecem corriqueiros assumem uma dimensão tal que extrapolam o âmbito em que aconteceram. Em um mundo totalmente conectado eles  imediatamente passam a ser do conhecimento de todos, provocando comentários e posicionamentos conflitantes.

O caso Vini Jr., atleta brasileiro do poderoso time de futebol espanhol Real Madrid, é , no meu modo de ver, um desses casos. Emerge do âmbito esportivo e alcança uma amplitude que , como se vê, trazem resultados surpreendentes, para o bem ou para o mal.

 Ao ocupar um lugar que não estava determinado para ele, vitorioso em uma sociedade  historicamente  segregadora, o astro brasileiro afronta os que saquearam e dizimaram os povos pré-colombianos. E facilmente passa  do status  de vítima de racismo para o de réu inconfesso, acusado de escarnecer da ordem estabelecida com sua performance em campo. 

Ou seja, é o culpado, pelas suas qualidades técnicas, pelas manifestações vergonhosas mas não surpreendentes, ocorridas nesse dia histórico em que seu posicionamento provocou  reações das autoridades espanholas, ante a profusão de comentários negativos em escala mundial, que foram lançados a sociedade espanhola, que curiosamente ainda vive em uma monarquia, apegado às velhas tradições milenares.

 Vinicius, de cabeça erguida, conseguiu ao mesmo tempo tornar-se repentinamente um defensor mundial das causas anti-racismo, atraindo mais  seguidores para o movimento, ao tempo em que com seu talento e coragem, atiçou a chama do discurso de ódio contra as minorias étnicas, não apenas na Espanha.

E todos sabemos onde esse embate pode chegar: atitudes radicais que muitas vezes evoluem para atentados à integridade física de lideranças, como ocorreu em um passado americano  não tão distante.

Ao punir de forma inédita os envolvidos no ocorrido no estádio do Valencia, a justiça  espanhola, no âmbito esportivo ou dos direitos humanos, deu um passo importante para uma improvável construção de um mundo melhor.