A Divisão do Brasil. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 03 de Setembro, 2022 - Atualizado em 03 de Setembro, 2022



 

“Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar/ Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora... Mas se a sentença se anuncia bruta, mas que depressa a mão cega executa, se não o coração perdoa.” Fado Tropical

Não é de hoje, o Brasil sempre foi dividido e violento. A ideologia do homem cordial decorre do milenarismo, do paraíso tropical e do bom selvagem, ideologias europeias.

Para a pintura, tivemos duas primeiras missas, uma pintada por Victor Meirelles e a outra por Cândido Portinari.

 

A missa de Meirelles (pintada em 1859) destaca a congregação do invasor branco com os índios, uma harmonia entre pagãos e católicos. O Brasil era o paraíso, o quinto Império da utopia milenarista.

A missa de Meirelles foi inspirada na Carta de Pero Vaz Caminha, só publicada em 1817, na Coreografia Brasileira de Aires de Casal. Caminha pinta o índio como o bom selvagem à espera da salvação cristã.

A mesma primeira missa pintada por Portinari (1948) elimina os índios da cena. A missa é um ato unilateral de ocupação, empurrando os nativos para um beco sem saída: entre a Cruz e a Espada.

Não tivemos um genocídio humanitário e civilizador.

A colonização brasileira foi um banho de sangue, índios e negros foram consumidos na fornalha da construção do Brasil. A dominação portuguesa nunca fez concessões aos subalternos, reprimiu sem piedade qualquer rebelião.

A regra era cortar as cabeças, literalmente, degolar os derrotados.
O Brasil cordial é uma lenda. Aliás, a tortura e a matança continuam, nunca cessou.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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