A crise da verdade. (por Antonio Samarone).

Antonio Samarone, 25 de Setembro, 2022 - Atualizado em 25 de Setembro, 2022

 

 

A inteligência artificial é uma lupa que explora o inconsciente, revelando aspectos imperceptíveis do eu, ignorados pelo próprio sujeito. Muitas vezes somos o que não sabemos. O regime de informação se apodera das camadas pulsionais, emotivas, pré-reflexivas do comportamento, anteriores as ações conscientes.

Mídia é dominação!

No início da democracia a mídia determinante era o livro. Na cultura livresca, o discurso apresentava coerência lógica. A narrativa era fundamentada. As ideias políticas fundavam-se na racionalidade e na justificação dos interesses.

O famoso debate (1854) entre o republicano Abraham Lincoln e o democrata Stephen A. Douglas durou 8 horas. Douglas defendeu as suas ideias por três horas, Lincoln replicou por outras três horas. Em seguida, cada um teve mais uma hora para debaterem questões políticas complexas.

As mídias eletrônicas de massas (televisão) destruíram os discursos racionais da política, oriundos da cultura livresca. O discurso degradou-se em show e propaganda. O público se tornou consumidor de uma representação teatral.

Nos debates políticos televisivos o que importa não é a mensagem do candidato, mas a sua performance, a sua capacidade interpretativa e histriônica. O debate político tornou-se uma forma de entretenimento. A imagem substituiu a palavra.

A TV fragmentou o discurso político, mantendo a aparência de informação. Em Sergipe, Marcelo Déda foi o líder político das mídias eletrônicas.

A televisão pode ser o império das aparências, mas ainda não é uma fábrica de fake News eficiente, falta-lhe a velocidade para improvisar os memes.

É a Era da inteligência artificial e do Big data e o fim da democracia, que são lentas, prolixas e tediosa. A política se tornou uma disputa do mercado eleitoral, por meio das redes sociais.

A sociedade da informação migrou para o Smartphone. A informação tem vida própria, não precisa da verdade. Pelo contrário, a Fake News viraliza mais fácil, são fragmentos de informações descontextualizada. Se a informação coincide com as crenças de quem as recebe, independe de confirmação.

As mídias digitais trabalham com a psicopolítica. O comportamento do eleitor é influenciado a níveis do inconsciente, como os comportamentos de consumo. Grupos diferentes recebem uma mesma informação de forma diferente, previamente estudado para cada perfil.

Nas mídias sociais a luta política se transformou numa guerra de informações (infowaes), onde a verdade não possui o menor valor. São robôs produzindo Fake News com disparos em massa, robôs produzindo memes provocantes. Os memes privilegiam as imagens.

Nem o discurso nem a verdade são virais. Argumentos e fundamentações não cabem em tweetes. A coerência lógica é estranha a mídia digital.

É impossível entender o comportamento dos candidatos e dos eleitores no atual processo eleitoral e prevê quem serão os eleitos, sem compreender a supremacia das mídias sociais na disputa.

As informações ganham vida, temporalidade, velocidade e dignidade próprias. Estão além da verdade e da mentira. A informação ultrapassa a verdade, a superpõe pela velocidade.

A verdade está condenada ao fracasso nas batalhas políticas através das redes sociais.

Mesmo as chamadas ações de rua, carreatas, passeatas, comícios, repercutem bem mais com as postagem nas redes sociais. Uma manifestação em local remoto, alcança a comunidade das redes de forma instantânea.

Estamos na Era das pós verdades. Afinal é o fim das grandes narrativa que dá início a pós-modernidade. É a morte da palavra, e com a sua morte, o fim do homem.

No início era o verbo, o logos a palavra. - Gênesis

Antonio Samarone (médico sanitarista.

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