O Novo Niilismo (nihil). (por Antonio Samarone).

Antonio Samarone, 27 de Setembro, 2022 - Atualizado em 27 de Setembro, 2022

 

 

O niilismo do século XIX pretendia recriar os valores. O antigo niilismo foi resumido numa sentença de Nietzsche: “Deus está morto.”

O atual niilismo, ao contrário, suprime todos os valores. A narrativa é substituída pelo Bigdata, a teoria pela informação.

A dualidade verdade/mentira acabou. Antes, o mentiroso reconhecia a verdade, apenas estava semeando confusão. Hoje, a diferença verdade/mentira foi anulada, os fatos e a realidade são desconsiderados.

Está confuso? Vamos clarear...

O fim das grandes narrativas dá início a pós-modernidade, nasce a sociedade da informação. Inicia-se a Era da pós verdade. A mercadoria substitui a verdade.

Os Fake News não são mentiras, apenas afirmam o que lhes convém. Os Fake News são indiferentes à verdade, pertencem a um mundo da pós verdade.

O mentiroso reconhecia a existência da verdade, hoje, a verdade é ignorada, deixa de existir.

Não se fala merda apenas por desconhecimento, fala-se também por indiferença à verdade. A liberdade de opinião se transformou na fragmentação do pensamento, no fim das referências, na legitimação do “achismo”, onde cada um tem a sua verdade, ou seja, o fim da verdade factual.

Quando a extrema-direita bolsonarista afirma que está lutando contra a “ameaça comunista”, mesmo inexistindo essa ameaço, eles não estão simplesmente mentindo, apenas desconsideram convenientemente a realidade.

É o fim dos sistema verdade/mentira.

Nem a verdade prevalecerá, nem a mentira tem pernas curtas. A dualidade verdade/mentira acabou e a verdade morreu. A ordem digital aboliu a solidez dos fatos. “Tudo o que era sólido se desmanchou no ar.”

A fotografia analógica era prova da realidade factual. Foi assim, veja a foto! A fotografia digital produz uma realidade editável, nova, indiferente a factualidade.

A informação é aditiva e cumulativa, a verdade é narrativa e exclusiva. A sociedade da informação é esvaziada de sentido, uma sociedade da desconfiança.

Estamos presos numa Caverna de Platão digital. Essa é a base do novo niilismo.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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