Médicos e Loucos. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 18 de Novembro, 2022



 

A “loucura” do Dr. João Vieira Leite.

Um caso tenebroso da medicina, no início do século XX: o tratamento da “loucura” do Dr. João Vieira Leite, médico e Governador de Sergipe (por poucos dias).

O Dr. João Viera Leite é filho do Coronel Sisenando de Souza Vieira e D. Adelaide Leite Vieira, nascido no engenho São Félix, cidade de Santa Luzia do Itanhy, a 04 de setembro de 1867. Irmão do famoso médico Dr. Berílio Leite, que fez história na Estância.

Dr. João Vieira Leite colou grau em medicina pela Faculdade da Bahia, em 27 de outubro de 1890, defendendo a tese “Apreciação dos métodos operatórios gerais adotadas na operação cesariana”.

Em seu retorno à Sergipe, montou a sua clínica na praça da Matriz em Estância, sendo bastante aceito. Foi diretor e grande benfeitor do Hospital Amparo de Maria.

Entre seu retorno a Sergipe em 1890 e 1901, o Dr. João Vieira teve carreira meteórica como médico e como político. Um personagem destacado da vida sergipana.

Foi Intendente municipal em Estância (Prefeito), Deputado Estadual nas legislaturas 1894-95, 1896-97, Presidente da Assembleia Legislativa, e nessa condição, Governador de Sergipe por 44 dias, após a deposição de José Calazans (1894).

Até quando ocorreu uma grande tragédia: o Dr. João Vieira, ainda moço, com apenas 35 anos, começou a apresentar um comportamento “estranho”, “esquisito”, o que não demorou muito tempo para que a comunidade suspeitasse de que o facultativo estivesse ficando maluco. E nessa condição de louco, foi levado à força, pela família, para o Rio de Janeiro, em busca de tratamento.

O Dr. João Vieira resistiu a ida para o Rio de Janeiro. Não houve acordo. O ex-governador de Sergipe foi apeado numa camisa de força e, sob intensa violência, embarcado para a sua última viagem.

Durante a viagem, que durava de cinco a oito dias, o Dr. João Vieira foi enclausurado num apertado compartimento do “Vapor Manaus, da Cia. Esperança Marítima”, transformado em solitária. João Vieira reagiu a repressão insana.

Após muita violência, tortura física e mental, de bater-se insistentemente com cabeça nas paredes, de muita luta para liberta-se, muita automutilação. João Vieira, médico, governador de Sergipe, foi abatido pelas práticas psiquiátricas da época.

Em 21 de janeiro de 1902, nas proximidades do porto de Vitória, no Espírito Santo, antes de chegar ao seu destino no Rio de Janeiro, o Dr. João Vieira não resistiu aos sofrimentos e faleceu de forma absurda, resistindo à violência da internação e lutando por liberdade.

Dr. João Vieira Leite, um esquecido mártir da psiquiatria.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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