Antonio Samarone Ora bolas! (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 24 de Novembro, 2022



 

Hoje, o Brasil estreia em mais uma Copa do Mundo. A minha lembrança mais antiga é de 1962, o bi campeonato. Itabaiana, como qualquer aldeia, fez festa com o título. Ouvia-se os jogos pelo rádio. Eu só lembro das comemorações.

A bola da Copa 2022, “Al Rihla”, tem até chip, para que se possa acompanhar a sua trajetória. A bola é vigiada pela internet das coisas.

A partir de 1962, o futebol virou uma obsessão para os meninos pobres. Todos queríamos ser Pelé ou Garrincha. Só que Mané tinha as pernas tortas. A bola virou o sonho de todos.

Não falo da bola de couro curtido, sem chances. Em Itabaiana não se vendia essas bolas. Comprava-se a bexiga em São Paulo e Mestre Dé encouraçava. Revestia-a de couro de segunda. Quando molhava, a bola pesava uma tonelada. Após cada jogo, passava-se sebo na bola e esvaziava-se. O sebo para evitar o ressecamento e o esvaziamento para se evitar que a bola ficasse oval.

Os gomos da bola de couro eram costurados à mão, com uma sovela. No local do pito, colocava-se uma tampão. As bolas continuavam de couro até 1970, ano do tri. A bola de couro feita em Itabaiana era quase de pedra. Dura e pesada.

A molecada do Beco Novo jogava na rua com bolas de meias. Isso mesmo, enchia-se um meia usada de pano, amarrava-se a boca, e estava consumado o objeto de desejo.

Depois apareceram as bolas de borracha. As danadas pulavam sem parar, eram bolas vivas. Se essa bola atingisse as costas de uma atleta, a marca ficava por semanas. Se atingisse o rosto, era nocaute.

Apareceram as bolas de plástico, chamava-se bolas Pelé. Foi um avanço tecnológico. Leves e maneiras. As peladas eram jogadas com pés descalços e com a bola Pelé. Foi um paraíso para a molecada. O dono da bola tinha um privilégio, era sempre titular. Qualquer contrariedade, o dono ia embora com a bola.

Experimentei jogar com uma bola de couro aos 15 anos, no campo de Mané Barraca. Os irmão de Benjamim, que moravam em São Paulo, mandaram um bola de couro para ele. Passamos a adular Benjamim: “meu amigo, vamos Jogar, leve a bola!”

Nesse tempo já existiam bolas de couro industrializadas. Eram numeradas pelo tamanho: bola numero dois, três, quatro e cinco. As bolas número cinco ainda podiam ser oficiais e não oficias. A bola de couro de Benjamim era oficial, numero 5. Uma glória. A única bola de verdade estava Beco Novo.

Os meninos das outras ruas babavam de inveja. Isso, sem exagero, a baba escoria pelo canto da boca. Eu vi!

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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