Gente sergipana – Rosita dos Santos. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 19 de Dezembro, 2022 - Atualizado em 19 de Dezembro, 2022

 

 

O doutor Afonso Figueiredo Góes, depois de 32 anos, teve um gesto sublime: liberou a sua empregada doméstica, Rosita dos Santos, para passar o Natal em casa.

Rosita é do Riachinho, interior de Ribeirópolis, veio trabalhar na casa do doutor aos 15 anos. Já era órfã de mãe. O doutor Afonso possui uma fazenda na região do Saco do Ribeiro. Por ser muito católico, entendeu que estava na hora de fazer uma caridade aquela órfã: trouxe a menina para ajudar em sua casa, em Aracaju.

A menina fazia de tudo: era babá, faxineira, lavava e passava. Foi ajudante de cozinha, pau para toda obra. Abrigava-se num quarto dos fundos, próximo ao canil.

Hoje Rosita está com 45 anos, passaram-se três décadas. Rosita sempre teve um sonho: conhecer o mar. Mesmo morando em Aracaju há 30 anos, nunca teve essa oportunidade.

Rosita ouviu na televisão que tinha direito a carteira assinada, entre outros direitos trabalhistas. Rosita nunca teve a coragem de tocar nesse assunto, com o protetor. O doutor Afonso a considerava da casa. Uma agregada. Rosita tinha casa, comida e umas roupinhas, para que mais? Que botasse as mãos para o Céu.

Se comenta, eu acho que não procede, que o doutor durante a pandemia, cadastrou Rosita no Auxílio Brasil, e tomou posse do seu cartão. Pensei, se for verdade, que pelo menos ele devolva o cartão da moça.

A intenção do doutor Afonso com essas “férias”, é que Rosita não retorne, fique por lá, pois a esposa, dona Roseane, resolveu mudar-se para um apartamento, defronte ao Parque da Sementeira. O novo lar não cabe Rosita.

Para fazer justiça, o doutor deu um dinheiro a Rosita, para ele iniciar uma nova vida. Ela não revela quanto. O mundo é grande e Deus não desampara ninguém, disse a dona Roseane.

Rosita só tem uma amiga em Aracaju, dona Carmelita, que trabalhou na república cebolinha. É nesse ponto que eu entro na história. Foi dona Cacá que me ligou, contando essa história corriqueira.

Rosita dos Santos não tem para onde ir, o pai já morreu, não tem irmãos, nem parentes nem aderentes, me contou dona Cacá. “Abrigá-la aqui em casa, eu não tenho condições” – Cacá.

Rosita é nova para se aposentar e velha para arrumar trabalho. Rosita tem quarenta e cinco anos, que parecem sessenta.

O drama é maior, Rosita precisa de um emprego que lhe forneça abrigo. Não aprendeu a cozinhar. Nunca frequentou uma escola, conhece os ônibus pela cor. O que sabe mesmo é lavar roupas, serviço que as máquinas fazem cada vez melhor.

O doutor Afonso é um homem de bem, viajou para Roma, foi assistir à missa do galo no Vaticano. É uma tradição dessa família religiosa, temente a Deus. O doutor, recentemente, doou uma certa quantia para as obras de caridade da Paróquia.

Pelo menos o Natal, Rosita passará na casa de Dona Carmelita, no Parque dos Faróis.

Feliz Natal.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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