O brasileiro cordial. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 23 de Dezembro, 2022 - Atualizado em 23 de Dezembro, 2022

 

 

O tema central da Ilíada, obra fundadora da cultura ocidental, é a Ira desordenada de Aquiles e as consequências de sua cólera, inclusive para ele próprio.

Homero refere-se a Ira, um sentimento grandioso, próprio dos deuses e dos heróis. A Ira pode ser divina, santa, inspiradora. A Ira é filha da indignação.

O ódio é um sentimento pequeno, filho do ressentimento e da inveja, não suporta o perdão e a tolerância.

O que os grupos de WhatsApp de extrema direita exalam é ódio, um sentimento destrutivo, nascido de frustrações não resolvidas. O ódio é filho da intolerância. A narrativa do ódio é a violência, o segregacionismo e a ditadura.

Nenhuma ideia, apenas ódio.

Essa gente, até ontem, participou do Natal sem fome do Betinho, era contra o esquadrão da morte e a favor dos direitos humanos. Era tudo aparências, medo de expressar publicamente os meandros da alma?

Como esse ódio explodiu, e se transformou em militância política? Não sei! O certo, é que as redes sociais fortalecem essas ondas de ódio.

Pessoas pacatas, religiosas, bem-comportadas presencialmente, profissionais conceituados, quando se enturmam nos grupos de WhatsApp, liberam a alma, divulgam fakes, pregam a violência, clamam por ditaduras, são racistas e aporofóbicos, sem a menor cerimônia.

Acham que os que assim não pensam, são todos comunistas, até o Papa. O comunismo real ou fictício, continua sendo um fantasma ameaçador. Não sei se usam esse mote unificador dos odientos, por falta de argumentos, delírio, desinformação ou má fé.

Quando questionados sobre a pregação do ódio, defendem-se com o desgastado argumento que estão exercendo a liberdade de manifestação.

Trata-se de um fenômeno social aparentemente duradouro, que voltará ao poder. Um solo fértil para o fascismo.

Mesmo sendo Natal, não professo falsos otimismos.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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