Gente sergipana - Abrahão Crispim (1947 – 2017) (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 29 de Dezembro, 2022



 

Tudo tem o seu tempo, menos a morte. Morre-se aleatoriamente. Alguns dos que já morreram continuam vivos e existem os ainda vivos que já morreram e se esqueceram de sepultar.

Existem falecidos que fazem muita falta, outros nem tanto. Como existem os vivos, com o prazo de validade vencido. A morte tem os seus protocolos.

Dos que fazem falta, acordei-me lembrando de Abrahão Crispim de Souza, isso mesmo, Abrahão de muitas coisas. Passou no vestibular de matemática e formou-se dentista.

Abrahão levou a civilização urbana para Itabaiana: os bailes, os jornais e os discos.

Abrahão é de 1947, filho de Zé Crispim e Dona Lourdes. Uma ninhada grande de irmãos (Átalo, Águeda, Ada, Altéia, Amabel, Atenágoras e Grampão). O pai, alfaiate e escritor, da boa cepa do Zanguê.

Zé Crispim foi dono de “A Sublime”, uma loja de tecidos na Praça da Feira. Um comerciante de palavra, que nunca enricou.

Abrahão fez o primário no Guilhermino Bezerra e o ginásio no Murilo Braga. Veio para o Atheneu em 1965. Para ajudar nas despesas da família, entrou para trabalhar no BANESE em 1968.

Abraão foi fundador (junto com meia dúzia de "gatos pingados") do Jornal o Serrano, que registrou as mudanças culturais de Itabaiana. Uma pena que esse jornal ainda não esteja digitalizado e disponível para os pesquisadores e curiosos.

O Jornal Serrano circulou entre 1968 e 1977. No Jornal, além de diretor, Abrahão escrevia a coluna social, com os pseudônimos de Francesca, Sissi e Nadja Sampaio. A cada fofoca, a sociedade Itabaianense fervia de curiosidade para saber quem era a ousada escriba.

Abrahão inventou a festa dos melhores do ano, em Itabaiana. Um grande baile, com os Los Guaranis ou os Nômades, para louvar a vaidade provinciana. Sem querer me gabar, Abrahão realizou até um concurso, para eleger o homem mais bonito da cidade. Quer saber quem ganhou?

Abrahão foi o eterno presidente do Sindicato dos Bancários, do Centro Acadêmico, fundador do PT e o seu primeiro Vereador. Abrahão esteve presente em todas as lutas e em todos os movimentos (anistia, diretas já, fora Color, entre outras. Foi Abrahão quem trouxe o PT para Sergipe, desde as primeiras reuniões em São Paulo.

Se não bastasse, Abrahão disputou a Prefeitura de Itabaiana pelo MDB, em 1976, enfrentando a ARENA I, com o filho de Chico de Miguel e a ARENA II, com Fernando Mendonça. Tempos bicudos, Abrahão teve 105 votos rebeldes. Uma coisa que não mudou em Itabaiana, esse eleitorado cresceu pouco de lá para cá.

Abrahão foi membro fundador da Academia Itabaianense de Letras.

Certa feita, no Etelvino Mendonça, diante a rivalidade Itabaiana X Sergipe, onde até a polícia de Barreto Mota tinha lado, Abrahão bradou quase sozinho contra a interferência da força policial. Abrahão sempre foi um homem de muita coragem.

Abrahão foi casado com a enfermeira Rossilar, deixando uma prole numerosa (Newton, Katiuchas e Abrahãozinho.

Numa sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017, Abrahão faleceu precocemente, aos 69 anos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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