Feliz Ano Novo, Aracaju. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 31 de Dezembro, 2022


 

“O céu do Aracaju tem todos os tons de azuis, claros e escuros, meigos e violentos.” – Joel Silveira.

No dizer de Mário Cabral, Aracaju nasceu feia, pobre e impaludada. Um paraíso das febres, um baixio de mangues, lagoas, pântanos e alagados.

Aracaju engatinhou sobre um charco imenso, onde a saparia coaxava o seu canto. Aracaju é obra dos sergipanos, a disputa entre as areias das dunas e a lama dos manguezais.

Aracaju é um aterro embelezado.

Aracaju nasceu em 21 de fevereiro de 1855, na reunião da Assembleia, no Engenho Unha do Gato. Antes era o Arraial do Riacho de Santo Antonio do Aracaju.

Aracaju era vaidosa por ter sido planejada pelo engenheiro Pirro. Um tabuleiro esquartejado, com ruas de 12 metros de largura, 3 de calçada e 9 de pista, muito antes dos automóveis.

“Aracaju não é terra, nem também povoação, Só tem casinhas de palhas, forradinhas de melão.” A primeira casa de luxo, imponente, foi o palacete de Adolfo Rollemberg, em 1914.

Até a década de 1960, Aracaju permaneceu bucólica, onde o edifício mais alto era a Catedral. O nosso primeiro arranha céu é desse período.

O transporte era feito por uma linha de bondes, puxados a burros. A linha começava na Cadeia Velha e ia até o Trapiche Aurora.

Com a chegada da Petrobras, Aracaju se transformou num canteiro de obras, para o bem e para o mal. As construtoras tomaram conta da Prefeitura, e danaram-se a construir. Estreitaram ruas, avançaram as calçadas: era o vale tudo do progresso.

Os mangues foram aterrados, as várzeas ocupadas e as árvores decepadas. Aracaju deu um salto em pouco tempo. Era o progresso do cimento e do cal. A brisa fresca do Rio Sergipe foi sufocada. A cidade se transformou no inferno para os pedestres.

A Petrobras foi embora.

Atualmente, a especulação imobiliária é dona de 2/3 do restante do solo urbano do Aracaju. São latifúndios urbanos, engordando, para o bem do capital e do lucro.

A região do Mosqueiro, em conflito com São Cristóvão até pouco tempo, está sendo ocupada na lógica do mercado. O lucro derrotando a qualidade de vida.

A chamada “zona de expansão urbana do Aracaju” é propriedade do capital. Tem donos. O último refúgio das restingas, dunas e lagoas, refúgio das capivaras e dos patos silvestres, a última alternativa para Aracaju contemplar a qualidade de vida.

Não sou contra o crescimento, apenas não precisa essa política de terra arrasada.

Essas fotos, é do que resta das nossas lagoas na zona de expansão.

Há tempos, sugeri que a área do Tecarmo, desocupada pela Petrobras, fosse transformada numa reserva natural de restinga. Depois silenciei, com medo de que o Tecarmo fosse vendido ao setor privado.

Durante a Era Bolsonaro me calei, para não chamar a atenção.

Começa amanhã um novo governo, com outra orientação. Está na hora da Prefeitura do Aracaju tomar a iniciativa de incorporar o Tecarmo, como Parque Municipal. O Parque da Sementeira só existe, pela iniciativa do Prefeito Heráclito Rollemberg.

Que em 2023, Aracaju busque um caminho sustentável.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

O que você está buscando?