Letras Provincianas. (por Antonio Samarone.)

Antonio Samarone, 21 de Janeiro, 2023


 

Sergipe é um fenômeno literário e poético. A proliferação de Academias é uma consequência. Esses artistas merecem o reconhecimento.

Sobre as Academias, continuo pensando como o comprovinciano Alberto Carvalho.

Muitas almas agrestes e rudes se aventuram em publicações de livros. Os antigos, diziam que sem o dom da poesia ninguém possui o senso estético. Tudo bobagem, perdemos a timidez.

Recentemente, uma vaca sagrada da intelectualidade sergipana desacreditou os articulistas de internet, pelo erros gramaticais encontrados em seus textos. “Eles não sabem usar a crase”, disse o consagrado provinciano.

Relendo o grande João Ribeiro, autor de uma gramática da língua portuguesa, encontrei esse trecho:

“Assim, pois, meus senhores, amigos e inimigos, sabei que eu sou um pecador velho, como “vos ommes... A verdade é que, quando publiquei uma gramática, parece que tive a previsão desse enfado, e publiquei-a justamente para desquitar-me desse monstro, e errar à vontade.”

Por conveniência, penso como João Ribeiro.

Gilberto Freire considerava João Ribeiro, e não Tobias, o maior intelectual de Sergipe. O laranjeirense João Ribeiro, ocupou a cadeira 31, da Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 1934.

“Para o botânico a planta vale pouco, porque quase não tem inteligência; mas para planta é possível que a inteligência seja uma aptidão à desgraça, qualidade inferior e tal que aos olhos dela desmoralize o homem.” – João Ribeiro.

João Ribeiro foi aluno de medicina na Bahia, abandonou o curso por falta de vocação.

As exigências para alguém ser considerado um “homem de espírito”, um literato, um poeta, um músico, um pintor, um dançarino foram revogadas. Vivemos o relativismo cultural. Para ser considerado um artista, basta atender a demanda cultural.

As academias de letras acolhem a todos, mesmo os que não se arriscaram a escrever sobre nada. Nenhuma carta, nenhum bilhete.

Há pouco, as exigências eram intransponíveis.

“O Artista é aquele ser sensível possuidor do fogo sagrado, o contraditório, o mágico, o profeta, as antenas da raça, o abridor de caminhos. Também é o depoente, o crítico, o incomodo alquimista dos mais estranhos elementos do seu tempo.” – Alberto Carvalho.

Eu, valendo-me da atual permissividade cultural, continuo escrevendo essas mal traçadas linhas.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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